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"Que dureza jogar com essa defesa", parece dizer a
expressão de Thiago Neves. (foto: Globoesporte.com) |
Outra noite frustrante, empatar com
uma equipe fraquíssima não passava pela cabeça de nenhum tricolor.
Mas o Fluminense jogou bem, fez um
primeiro tempo primoroso, arguirão alguns.
Será que jogou mesmo? O adversário não
existe, provavelmente não conseguiria vencer o último colocado do nosso
combalido estadual.
Não se trata de apenas criticar, mas é
preciso realmente avaliar as intrincadas conexões que transformam um time
vencedor num que perde ou empata com frequência.
Comecemos pelas palavras do Abel na
coletiva:
“- O time é o mesmo, o treinador é o mesmo, a
filosofia de trabalho é a mesma... No ano passado sofríamos muito para vencer e
em 2013 de repente estamos sofrendo menos. Mas a grande diferença é que
ganhávamos mais do que estamos ganhando hoje. Não sei o porquê. Até esperamos
alguns jogadores adquirirem melhor ritmo de jogo. O Gum, por exemplo, não foi
bem contra o Vasco e diante do Huachipato voltou a jogar bem”.
Preocupa-me sobremodo o fato do nosso
treinador não ter a mínima noção do porque o time não consegue mais vencer. A
resposta é óbvia e não carece de maiores reflexões.
Gum esteve melhor do que contra o
Vasco porque seria impossível jogar pior, mas voltou a falhar no gol do
Huachipato já que teve a chance de isolar a bola antes mesmo do drible
desconcertante sobre o Edinho.
Nossa defesa sempre foi fraca, os
laterais, o miolo da zaga e o “cabeça de
área” _ prefiro “cabeça de bagre” _ agora
com o pomposo apelido de primeiro volante.
Mas foi a menos vazada e o time
ganhava.
Verdade, mas por que conseguia ganhar?
Simples, porque dispunha de Cavalieri
numa fase esplendorosa, de Deco, na plenitude de sua forma, um meia armador
inigualável.
Dispunha também de Fred e Wellington
Nem em estados de graça. Atacantes que não tomavam conhecimento de seus
marcadores, qualquer que fosse o local das disputas.
Aliem-se a esses fatores as
consistentes atuações de Jean e Thiago Neves, que ajudavam a empurrar o time
para frente.
As habilidades desses seis serviram
para aplacar as deficiências dos demais. Só um exemplo para aqueles de não tão
boas memórias: o jogo do título. Dois cruzamentos e um escanteio, partidos da
direita, que propiciaram o empate; a virada do Palmeiras só não veio em face de
mais uma intervenção milagrosa de Cavalieri.
O quadro hoje é diferente: Cavalieri
ainda é muito bom, mas não opera os milagres de outrora, Deco é um arremedo do
que foi no ano passado e os demais ainda pecam pelas condições físicas.
Fato normal se for levado em consideração
que quatro deles: Deco, Fred, Wellington Nem e Thiago Neves não participaram da
pré-temporada, ou se participaram, o fizeram apenas parcialmente.
Além disso, os defensores literalmente
“comiam a grama” e se doavam ao
máximo, o que não ocorreu ainda nessa temporada.
É entrevista pra cá, entrevista pra lá,
ambições de convocações para seleção e por aí vai.
Outro ponto importante é que o futebol
de Wellington Nem deixou de ser solidário, não interessando a possibilidade de
existir um companheiro melhor posicionado. O negócio dele tem sido tentar o
gol SEMPRE, mesmo em lances sem ângulo apropriado para conclusão.
Ontem mesmo os passes para Fred foram
negados em duas oportunidades claras de gol. E como dizia um rato conhecido: “a bola pune”!
Abel
também não concorda com as alegações que os adversários já conhecem o estilo de
jogo do Fluminense e, manifestando contrariedade, declarou:
“Não concordo. O adversário sabendo como jogamos veio de uma forma
no primeiro tempo. Tivemos até jogada de gol com o Jean entrando pela meia
esquerda. É muito simplista agora depois do resultado. Quem gosta de ver futebol,
viu um futebol brilhante no primeiro tempo. Nós caímos um pouco, eles
melhoraram um pouco, nós não conseguimos matar o jogo, e acabamos pecando.”
Impossível
concordar com a assertiva do treinador, primeiro porque embora tenha jogado
bem, o futebol apresentado ficou longe de ser brilhante.
Empatamos,
poderíamos ter perdido não fossem dois erros de arbitragem: o carrinho com o pé
sobre a bola dado pelo Edinho num atacante chileno, após uma saída errada do
Digão, lance passível de cartão vermelho e o pênalti não marcado, que
provavelmente daria a vitória aos chilenos.
O pior de
tudo, entretanto, é que o estilo de jogo atual não passa de uma variante do “Muricyboll”, ou seja, bico para frente
que os atacantes se viram.
Naquele
tempo, tínhamos o Conca, que arredondava as jogadas; ano passado, o Deco. Hoje
não temos ninguém e a consequência é a volta da bola, quase sempre pegando a
defesa desarrumada.
Entendo,
porém, que nada poderá ser feito para mudar esse estilo, enquanto tivermos
defensores que não saibam sair jogando.
Abel
deixou transparecer que poderá fazer mudanças na equipe e a insatisfação
demonstrada com as atuações de Deco e Bruno sinaliza para as possíveis voltas
de Wellington Silva e Wagner, ou seja, as alterações de sempre e que em nada
têm contribuído para melhorar o estilo de jogo e a efetividade da equipe.
E é aí que
aumenta a minha preocupação quanto à sequência da competição, preocupação essa que me faz retroceder a 2008, porque depois de eliminar São Paulo e
Boca, o título da Libertadores era a consequência natural.
Na fase de
classificação, o Fluminense já tinha batido o outro finalista, a LDU, no
Maracanã e empatado no Equador.
Mas a
vitória não veio e nada me tira da cabeça que por culpa exclusiva de Renato
Gaúcho, o técnico que apadrinhava o seu pupilo Ygor, de amargas lembranças para
a Torcida Tricolor.
A ligação
entre os dois era tamanha que para mantê-la Renato teve a coragem de barrar
Dodô, o melhor atacante da equipe.
O final da
história é conhecido por todos: Ygor falhou nos dois jogos decisivos e a taça
foi para um time muito inferior.
E o que
teria Abel com isso?
A
manutenção do mesmo estilo. Se por um lado Renato usou o nepotismo para manter
seu privilegiado, Abel por sua vez pratica uma espécie de “nepotismo múltiplo”, tanto são os seus apadrinhados.
E, a meu
ver, um dos modos que tem para manter o “status”
é evitar que os substitutos melhorem suas condições físicas, barrando-os até
mesmo do banco de reservas.
E aí o que
temos é o de sempre: sai Bruno, entra Wellington Silva, ou pior: sai Bruno,
desloca Jean; sai Deco, entra Wagner, enquanto Edinho, Carlinhos, etc. nunca
saem.
A luz no
fim do túnel é que agora temos um presidente que costuma posicionar-se e dar
umas duras em comissões técnicas teimosas.
Quando
questionou Muricy sobre a pífia campanha de 2011, o mimado treinador inventou a
polêmica dos ratos e pediu o boné.
Recentemente,
Siemsen deu uma chamada no Abel, sinal de que não está satisfeito com a
situação atual.
Quem sabe
agora, os rachões de fim de tarde não sejam abolidos, ou pelo menos minimizados
em prol de treinamentos mais adequados a eliminar as deficiências do elenco e
multi-nepotismo não seja reduzido?
Tomara,
porque não acho que a solução passe pela saída do Abel, principalmente porque
os técnicos brasileiros em sua maioria pensam da mesma forma.
A exceção
fica por conta do Cuca, mas que enquanto não deixar de lado a pecha de chorão
perseguido não conseguirá ganhar nenhum título expressivo.
Que o
toque do Peter seja absorvido e faça com que Abel reflita sobre algumas
questões, tais como:
- Por que
não dar nova chance ao Valencia?
- Por que
não escalar o Felipe no time titular desde o início, pelo menos uma vez?
- O que
falta para concluir que Wagner não é e nunca foi meia de ligação?
- Por que desarrumar ainda mais o meio de campo, insistindo em deslocar o Jean se o clube
tem no elenco mais dois laterais direitos?
REAJA FLUZÃO!
DETALHES:
Fluminense 1 x 1 Huachipato (CHI)
Local: Engenhão, no Rio de
Janeiro (RJ); Data: 6/3/2013
Árbitro: Germán Delfino
(ARG)
Auxiliares: Diego Bonfa
(ARG) e Gustavo Rossi (ARG)
Gols: Fred, aos 30' do
primeiro tempo e Nuñez, aos 25 'do segundo.
Cartões Amarelos: Carlinhos
e Digão
Fluminense: Diego
Cavalieri; Bruno (Rhayner, 32'/2ºT), Gum, Digão e Carlinhos; Edinho, Jean e
Deco (Wagner, 24'/2ºT); Thiago Neves (Samuel, 47'/2ºT), Wellington Nem e Fred - Técnico: Abel Braga.
Huachipato: Veloso; Aceval, Labrín
(Contreras, Intervalo), Muñoz e Crovetto; Nuñez, Yedro, Rodríguez (Arrué,
22'/1ºT) e Reyes; Falcone (Llanos,19'/2ºT) e Brian Rodríguez. - Técnico: Jorge
Pellicer