domingo, 7 de junho de 2020

Histórias vividas com o Fluminense: 4 – O caos generalizado no Estádio das Laranjeiras, a “esperteza” de Pinheiro e a redenção apoteótica de Marinho.


Campeonato Carioca de 1953, jogo com o Olaria nas Laranjeiras.

Lá se vão quase setenta anos e apesar de estar presente ao estádio e ter sentido aquela sensação de impotência com a derrota iminente muitos dos detalhes acontecidos naquela tarde de sábado me fugiram à memória.

No entanto, os dois lances capitais para mim, moleque na época, salientados no título a “esperteza” de Pinheiro e a redenção magnífica de Marinho, permaneceram indeléveis em minha memória como se fossem fatos acontecidos há pouco.

Para conseguir relatar tudo de bom e de ruim que aconteceu naquela tarde agradável de setembro recorri à pesquisa das principais publicações esportivas da época, de modo que todo o conteúdo dessa passagem pudesse registrar a realidade dos fatos. 

É claro que a leitura dos trechos dos comentários extraídos dos diversos jornais, transcritos ao final, evidenciará a diferença de interpretação dos fatos pelos comentaristas, de acordo com sua paixão clubística. 

Deixará claro, sobretudo, que desde os idos da década de 50 o séquito de recalcados para com o Fluminense já era bastante contundente.

Mas, voltando ao jogo, tudo contribuía para uma daquelas tardes tranquilas como muitas vezes vividas no estádio tricolor.

Nosso time era melhor e contava com Píndaro, Pinheiro, Bigode, Telê, Didi e os demais atletas tinham habilidade, mesmo estando em nível pouco inferior.

Marinho era o nosso centro avante, desde a oportunidade que agarrou com a contusão de Carlyle logo no jogo de estreia da Copa Rio do ano anterior.

Como de conhecimento de todo tricolor, o Fluminense foi o campeão invicto da Copa Rio e apesar de ter reivindicado junto à FIFA o reconhecimento do título de campeão mundial de clubes, a conquista ainda não foi homologada pela federação internacional.

Marinho mostrou qualidade e terminou como artilheiro, ao lado de Orlando, cinco gols cada, que contribuíram decisivamente para o título do torneio.

A transferência conturbada de Carlyle no final de 1952 deu a Marinho a oportunidade almejada de se tornar titular da camisa 9 do Fluminense.

Talvez essa conquista inesperada tenha mexido com o seu emocional porque, apesar de ter continuado como artilheiro da equipe, ele não conseguia reeditar as boas atuações de antes.

Absolutamente não era nenhum “perna de pau”, mas nitidamente tinha menos habilidade que Carlyle, principalmente com relação aos arremates a gol e por isso perdia oportunidades claras, que se convertidas poderiam ter levado o clube a vitórias em jogos capitais.

A consequência lógica era a pouca paciência da torcida e erros considerados normais para os demais jogadores quando aconteciam com Marinho recebiam sempre carga maior.

Fluminense e Botafogo lideravam o campeonato e até a ausência de Castilho não chegava a preocupar porque Veludo, seu reserva imediato, ostentava magnífica forma a ponto de vir a ser convocado para a Copa do Mundo do ano seguinte juntamente com o próprio Castilho e Gilmar, que na época jogava no Corinthians.

Anos de ouro em que nosso clube se dava ao luxo de ter seus dois goleiros principais participando de uma mesma Copa do Mundo, sendo que o nosso titular também o era na Seleção.
 
Fotos: lance.com.br e gazetaonline.com.br, respectivamente

Outro problema era o fato da equipe não estar conseguindo fazer valer o mando de campo e deixava escapar pontos preciosos em Álvaro Chaves, o que acabou alijando-a do título.

Os comentaristas da época julgavam que a razão seria o fato do time estar mais familiarizado com as dimensões maiores do estádio do Maracanã e por isso ficava em dificuldade para furar as retrancas dos times pequenos que se amontoavam em sua parte do campo.      

O Olaria por sua vez contava com três muralhas de contenção, sua linha média composta por Moacir, Olavo e Ananias, que não tinham nenhuma cerimônia em distribuir sarrafadas aos incautos atacantes que ousavam tentar ultrapassá-los, mais ou menos daquele jeito conhecido: ou passa o jogador ou passa a bola.

Esses senões, no entanto, não chegavam a preocupar os tricolores que lotavam as sociais e também as arquibancadas, todos com a certeza da vitória.

E entre os que assim pensavam estavam meu pai, meu tio André e eu.

O Fluminense começou bem, mas à medida que o jogo transcorria um ligeiro desconforto começou a tomar conta da maioria porque o Olaria fazia um bom jogo.

Utilizava a velha fórmula comum a todos os pequenos quando enfrentavam os grandes, principalmente quando os jogos eram disputados em campos de dimensões menores.

Tática simples com seis ou sete jogadores sempre atrás da linha da bola, um atacante fixo na frente e dois pontas velozes, que se revezavam em puxar os contra-ataques.

E embora o Fluminense dominasse as ações na maior parte da primeira etapa, vez por outra era surpreendido com jogadas de contra-ataques que chegavam a assustar, sendo que numa delas Esquerdinha acertou a trave de Veludo.
Foto: gfesporte.com.br

A situação começou a se complicar quando num desses contra-ataques o auxiliar levantou a bandeira marcando impedimento. 

No mesmo instante Pinheiro vacilou e pegou a bola com as mãos para bater o tiro livre sem observar que o árbitro ignorara a sinalização do assistente.

Pênalti marcado e protestos veementes de toda a defesa tricolor de que nada adiantaram e a penalidade foi confirmada.

Vaias ensurdecedoras vindas das sociais e das arquibancadas não abalaram o árbitro, que consultou o auxiliar para saber se o toque de Pinheiro teria sido dentro ou fora da área.

A confirmação do toque ter sido dentro da área sem fazer nenhuma menção à possibilidade do atacante bariri estar impedido enfureceu ainda mais os torcedores que passaram a vaiar e xingá-lo sem parar.

Era o estopim para o caos que se instalou logo depois, acontecimentos lamentáveis que serviriam de prato cheio para críticas veementes contra o Fluminense por grande parte da mídia, que comprovavam que a maioria, já naquela época, nutria uma espécie de “dor de cotovelo” do clube que dominava o futebol carioca.

Na realidade, a marcação do pênalti foi só o começo da lambança, porque na batida Veludo salvou o gol e cedeu escanteio só que, segundo a maioria dos cronistas, a bola já havia ultrapassado a linha fatal. 

Cretinice pura porque seria impossível do local onde se instalavam as “cabines” de rádio ter-se a certeza absoluta, como essa maioria rancorosa apregoava.

Convém salientar que em todas as publicações da época que pesquisei, os únicos isentos foram Benjamim Wright, que em seu artigo no “Espote Ilustrado” afirmou categoricamente ser impossível ter essa certeza e Mario Julio Rodrigues, do “Jornal dos Sports”, que desancou a parcialidade de seus pares da imprensa.

O juiz não viu ou se arrependeu de não ter marcado o impedimento no lance imediatamente anterior. O fato é que confirmou o escanteio.

Aí foi a vez dos olarienses reclamarem. Seus dirigentes e alguns reservas, que estavam no banco à frente das sociais, esbravejaram muito e em certo momento ao serem vaiados pelos torcedores tricolores começaram a xingar e fazer gestos obscenos para a social, sem dar a mínima importância para o fato de lá estarem esposas e filhas de muitos dos sócios.

O caldo entornou e os mais exaltados desceram e começaram a agredir os visitantes. Batalha campal entre torcedores tricolores, dirigentes e alguns suplentes do Olaria. Na confusão, o Sr. José Monteiro, assistente que havia levantado a bandeira e amarelado na hora de confirmar o impedimento, foi agredido com um soco nas costas.

Enquanto o pau quebrava nas imediações da meta dos visitantes, os titulares dos dois clubes permaneceram impassíveis em campo e olhavam tudo de longe.

Até que a Polícia entrou em cena, deteve o agressor do assistente e a situação foi acalmada sem que ninguém fosse expulso, talvez algum reserva do Olaria, mas os vinte e dois titulares permaneceram em campo.

Cabe aqui ressaltar que naquela época a Federação Metropolitana de Futebol, a atual FERJ, resolveu inovar contratando vários árbitros estrangeiros para participar dos campeonatos.

Eram várias as nacionalidades, ingleses, suecos, acho que alemães também.

Na verdade, o grande público não tinha muita noção de quem era o dono do apito, exceção quando o escolhido era Mr. Ford, um inglês conhecido como “o rei do pênalti”, tamanha era sua volúpia em marcar penalidades máximas.

Se apitasse nos dias de hoje, imagino o número de pênaltis que marcaria ao ver os “agarra agarras” constantes em nossas áreas por ocasião das cobranças de faltas e escanteios, uns três por jogo no mínimo.

Apesar de nada justificar a selvageria presenciada, o fato do árbitro não entender absolutamente nada do que os jogadores falavam foi um fator decisivo para a confusão se alastrar em campo.

A falta de sensibilidade dos cartolas da federação em escalar árbitros estrangeiros e auxiliares brasileiros era também a causa de muitas confusões, porque eles ficavam completamente isolados sem conseguir comunicar-se com os atletas e principalmente com seus auxiliares.

Existia sempre um intérprete presente, mas que só funcionava em situações normais, não em ocasiões caóticas como o que reinou em nosso estádio naquela tarde, onde quase todos falavam e gritavam ao mesmo tempo.

Serenados os ânimos, o árbitro sueco substituiu o auxiliar amarelão, pivô do início da confusão e o jogo foi reiniciado.

O Fluminense um pouco melhor abriu o placar aos 29 minutos com um gol de Telê e agora mais tranquilo conseguiu manter o resultado até o intervalo.

No segundo tempo os jogadores tricolores dominaram os primeiros minutos, não havendo nenhuma jogada de perigo por parte dos visitantes.

Ainda assim para os torcedores a tensão ainda era a tônica e o nervosismo geral e que piorou bastante quando Marinho desperdiçou oportunidade de ouro frente a frente com o goleiro adversário.

E como de acordo com a máxima que diz que quem não faz, leva”, o Olaria que até então assustava pouco nesse período, aproveitou-se de uma falha da defesa tricolor e empatou.

O Fluminense perdeu-se em campo a ponto de levar o segundo gol logo em seguida. Inacreditável: Olaria 2 a 1.

Os torcedores atônitos elegeram logo um culpado e no caso a vítima foi o Marinho pelo gol inacreditavelmente perdido e que teria aumentado nossa vantagem e provavelmente encaminhado a vitória.

Passaram a vaiá-lo toda vez que pegava na bola e quanto mais vaiavam, mais ele se esforçava para ganhar as jogadas e partia para cima da defesa adversária sem se importar com chutes e botinadas que poderia levar.

Se Marinho não tinha a técnica apurada de Carlyle para colocar a bola dentro das metas adversárias, o suplantava com vantagem na raça e na dedicação com que se empenhava em campo.

Alheio às vaias e xingamentos, corria, deslocava-se, pedia a bola sem se importar com a gritaria da torcida.

À medida que o tempo passava, o jogo ficava mais dramático e o desespero aumentava.

A essa altura os visitantes além das botinadas passaram a apelar para a cera exagerada, institucionalizando o “cai-cai”, ao fingir contusões num rodízio muito bem ensaiado.

Os tricolores tensos com a possibilidade da derrota e a consequente perda da liderança e diante da passividade do árbitro, Sr. Erick Westman, deixaram a técnica de lado e também passaram a distribuir botinadas, do mesmo modo que os adversários faziam desde antes de começarem a usar o expediente da cera.

A torcida fora de si reclamava praticamente de tudo, vaiava as marcações do árbitro, os erros de nossos jogadores e principalmente Marinho, o responsável “eleito” pela tarde infeliz.

O expediente da cera cada vez mais irritava porque o jogo quase não andava. E assim foi durante todo o tempo até o final. Não me lembro ao certo de quantas vezes caíram em campo, mas recordo-me que foram muitas.

Lá pelas tantas Marinho parecia um verdadeiro “Hércules” lutando como podia contra aquela muralha azul e branca a sua frente.

Estava com o rosto manchado de sangue e também a camisa e ninguém havia percebido a causa, porque em momento algum ele pediu atendimento ou saiu de campo para estancar o sangramento.

E à medida que os torcedores iam percebendo o sangue escorrendo de seu supercílio, as vaias iam se transformando em gritos de incentivo.

Os torcedores como que arrependidos passaram a aplaudi-lo mesmo quando ele errava.

E a cada manifestação da torcida mais ele se esforçava e partia para cima dos botinudos.

Para os que não acompanhavam ou não eram nascidos nos anos cinquenta, vale acrescentar que naquela época o jogador para ser atendido tinha que cair no campo ou ao menos solicitar atendimento ao árbitro. Apenas a presença de sangue não era motivo para paradas.

O jogo estava no final, faltavam dois ou três minutos e quando o Fluminense partia em desespero para um dos últimos ataques mais um jogou-se ao chão “contorcendo-se em dores”.

A reclamação foi geral, todos gritando que se tratava de cera e que o cara estava fingindo para ganhar tempo.

O juiz, sem entender nada do que ouvia, parou o jogo para atendimento ao jogador caído com a bola nas imediações do meio de campo e próximo da linha da lateral.

Seria o fim. A essa altura praticamente não dava mais tempo para nada.

A galera sabia que o jogo seria iniciado com bola ao chão e todos acreditavam que ela seria chutada para longe ou a partida parada com alguma falta estratégica, expediente no qual o adversário era versado.   

Enquanto os torcedores gritavam e xingavam o falso lesionado, o juiz e tudo o mais, alguns dos nossos jogadores também faziam pressão batendo no pulso na tentativa de chamar a atenção do árbitro para acrescentar o tempo parado.

Em meio a essa confusão, Pinheiro pegou a bola e como quem não quer nada foi caminhando devagar em direção ao lado do Olaria sem que quase ninguém de dentro do campo nem da imprensa observasse o fato.

Chegou a andar alguns metros e sem fazer alarde posicionou a bola um pouco mais afastada da linha lateral como se fosse cobrar uma falta.

Zezé Moreira, águia como era, percebeu sua intenção e começou a fazer sinais discretos para os atacantes se posicionarem na entrada da área adversária.

Tão logo o “lesionado” levantou e o juiz apitou, Pinheiro prontamente lançou a bola para a área e Marinho, que havia feito quase tudo de errado naquela tarde, descolou uma cabeçada perfeita e empatou no segundo final.

Os jogadores tricolores comemoravam o empate com gosto de vitória, enquanto os do Olaria permaneceram cabisbaixos e sem ação.

Apreensivos, olhamos para o árbitro que permaneceu estático no meio do campo, parecendo meio indeciso.

Impossível saber o que se passou em sua cabeça naquele momento, porque era um lance claro de bola ao chão como determinava a regra na época.

Alguns segundos que pareceram uma eternidade até que ele apontou para o meio e confirmou o gol.

A balbúrdia havia sido tanta que na hora nem os jogadores do Olaria perceberam a irregularidade.

Tão logo foi dada a nova saída, o árbitro encerrou a partida.

E Marinho, com o supercílio sangrando e a camisa ensanguentada deixou o campo literalmente carregado nos braços da torcida, que o envolveu numa bandeira e o levou até a entrada do vestiário.

Foi o seu dia de glória ao sair do fundo do poço e ser guindado a herói da partida pelos torcedores, que nem se importaram com o fato dele estar todo sujo de sangue.

O empate acabou não sendo tão desastroso porque no domingo o Botafogo empatava com o Madureira e os dois permaneceram na liderança.

O gol heroico manteve Marinho como titular durante todo o restante do segundo turno. Sua confiança voltou e ao final de sua participação no campeonato foi o artilheiro da equipe.

Porém, nem tudo foi felicidade, porque no primeiro jogo do terceiro e decisivo turno, numa disputa com o goleiro Garcia, ele sofreu ruptura dos ligamentos externo e cruzado do joelho direito, contusão que o afastou dos gramados por quase um ano.

Tremenda falta de sorte, perdemos nosso artilheiro e disputamos o final do jogo decisivo com o Flamengo com menos um homem.

Pior para Marinho, que ao retornar no final de 1954, ainda temeroso e fora de ritmo, teve que enfrentar a concorrência de Ambrois, contratado justamente para suprir a lacuna deixada por ele e também de um jovem revelado pela base, que viria a se tornar o maior artilheiro do Fluminense de todos os tempos, Waldo. 
Foto: terceirotempo.uol.com.br 

Apesar das dificuldades pós recuperação, Marinho chegou a participar em alguns jogos do campeonato e assinalou 3 gols. 
  
No início de 1955, transferiu-se para o Santa Cruz e depois de desempenho destacado foi negociado com o Gênova, da Itália. A partir daí seguiu sua carreira longe do Fluminense.

Com a idade que tinha na época, o que me interessava eram os resultados, de modo que nem me preocupei em saber como os incidentes daquela tarde foram repercutidos na imprensa, tanto que os tinha esquecido completamente.

Agora lembro que meu pai chegou a falar algo sobre o assunto, as críticas dos comentaristas, a reunião do árbitro com os dirigentes da federação, mas não dei muita atenção na época.

Ao recordar esse episódio tive a curiosidade de conferir o que disseram os cronistas, a repercussão de seus comentários e as possíveis consequências.

A maioria das colocações, muitas com redações rebuscadas, inclusive com  inclusões de vários termos em inglês, mania na época na tentativa de demonstração de erudição, foram deletérias ao Fluminense, tanto no que tange à selvageria que interrompeu a partida por vários minutos, como nos lances capitais que contribuíram para o resultado final. 

Sistema de jogo, técnico ultrapassado, violência, indisciplina e “la creme de la creme”, seu estádio, elevado por alguns a status de templo para logo depois ser rebaixado a mafuá.

Falaram de tudo, mas esqueceram-se de enfatizar o erro crasso do Auxiliar, que marcou impedimento num contra-ataque sem muitas pretensões e depois não teve coragem para contestar o árbitro quanto à marcação do pênalti no mesmo lance.

Até colocação de alambrado exigiram.

A maioria fissurada em denegrir o grande inimigo, sim porque a veemência de suas declarações não corresponde à tradição esportiva da rivalidade pura e simples. Para eles, o Fluminense não era adversário e sim inimigo, que teria que ser nocauteado, destruído de qualquer maneira.

Cantaram loas em apoio à delegação visitante como se ela fosse composta por normalistas do Instituto de Educação, indefesas diante dos trogloditas tricolores.

Omitiram os chutes, sapatadas e gestos obscenos dirigidos pelos dirigentes do Olaria ao público das sociais, onde se encontravam senhoras e crianças.

Ignoraram, inclusive, as fotos do incidente, que flagraram o próprio presidente Many Crockat de Sá chutando a cabeça de um torcedor tricolor, já caído ao chão. 

Na realidade, a única contestação que têm razão foi com relação ao gol de empate do Fluminense, porque a rigor o jogo deveria ter sido iniciado com bola ao chão, muito embora o Sr. Erick Westman, ao ser interpelado pela Comissão de Arbitragem, tenha justificado todos os seus atos, como poderá ser observado pelas informações transcritas das publicações pesquisadas.

A vontade de criticar e denegrir foi tão acintosa que poucos notaram que Marinho jogou por cerca de vinte minutos com a face sangrando devido a um corte no supercílio, apenas Benjamim Wright comentou “em passant” a face suja de sangue e "O Globo" publicou, na terça-feira seguinte, uma entrevista à respeito. 

O fato de o auxiliar José Monteiro ter assinalado o impedimento na jogada que originou o pênalti e não ter tido coragem para alertar ao árbitro também não foi levado em consideração pela maioria.

As exceções ficaram por conta de   Benjamim Wright, que escreveu o óbvio, ou seja, ser impossível afirmar-se com tanta certeza que a bola do pênalti defendida por Veludo tinha ultrapassado a linha e Mario Julio Rodrigues, o único a reportar a participação efetiva dos dirigentes do Olaria nas confusões.

Na mesma data, o Sr. Erick Westman, acompanhado do Auxiliar José Monteiro e seu intérprete, em atendimento à convocação do Sr. Álvaro Bragança, presidente do Conselho de Arbitragem, compareceu aquele departamento para esclarecimento dos fatos.

Afirmou que não viu a bola defendida por Veludo no pênalti transpor a linha e por isso mesmo não poderia dar o gol.

Justificou a substituição de José Monteiro como medida de precaução para preservar suas condições físicas, devido às ameaças dos torcedores.

Quanto à polêmica no gol de empate do Fluminense “deu uma de “Migué”, ao afirmar que já havia apitado falta de Washington em Píndaro quando observou o jogador J. Alves caído e voltou para verificar seu estado e autorizar o atendimento.

Ou seja, nada aconteceu, ninguém foi punido e o resultado mantido.

O Fluminense manifestou-se oficialmente sobre as ocorrências, através de "NOTA DE ESCLARECIMENTO AO PÚBLICO", divulgada pela maioria dos jornais e transcrita a seguir.

         "A Diretoria do Fluminense Football Club, tendo em vista as versões tendenciosas, vinculadas em torno dos acontecimentos que tiveram como cenário a sua praça de esportes, na tarde de 19 do corrente, durante o desenrolar da partida de football com o Olaria Atlético Clube, vem, pela presente nota oficial, esclarecer o púbico esportivo da cidade sobre os incidentes verificados naquela ocasião: 

I) – O conflito que se generalizou não foi criado pela atuação do auxiliar do árbitro, Sr. José Monteiro, mas, sim, pela atitude ofensiva e provocadora de um diretor do Olaria, cujas palavras e gestos obscenos com o quadro social do Fluminense motivaram natural reação de parte de alguns associados que se encontravam com suas famílias nas proximidades do local reservado aos dirigentes e aspirantes do grêmio visitante;
2) – Coincidindo a reação dos associados com o discutido lance da penalidade máxima, julgadores menos avisados interpretaram essa atitude como possível revide anti-esportivo à punição que acabava de ser imposta ao quadro; 
3) – O fato de contra as cores do clube ser marcada uma penalidade máxima não pode, em hipótese alguma, ser interpretado como causa de reações pessoais, que só tiveram início em consequência das atitudes imorais do indivíduo em causa; 
4)  Ao contrário do que se informou em detrimento das verdades dos fatos, foram oferecidas completas garantias à integridade física dos membros, não só do quadro diretor como aos atletas do Olaria Atlético Clube, que foram acompanhados até a sua condução por elementos da diretoria do Fluminense Football Club; 
5)  A diretoria a vir a público tem apenas o objetivo de restabelecer a verdade, em defesa das tradições do clube, que não podem estar à mercê de interpretações capciosas, ressaltando, outrossim, nenhuma restrição ter a fazer ao comportamento dos jogadores da equipe adversária. – Rio de Janeiro, 21 de setembro de 1953. – Antonio Leite, presidente". (sic)



A seguir comentários extraídos de algumas das publicações pesquisadas.  A análise detalhada dos artigos publicados confirma a disposição quase unanime em denegrir o Fluminense. Coisa de recalcados.

“Jornal dos Sports” – Curva Fechada – Geraldo Romualdo da Silva 
“O Fluminense, que nem sequer soube tirar proveito da situação especial de “dono da casa” para safar-se de um compromisso rude, até saiu de um empate constrangedor e inglório, profundamente negativo” ... Agora é tarde, agora ninguém pode mais se queixar. A não ser, diga-se de passagem, que se pretenda apresentar queixas por exorbitâncias cometidas, mas ainda assim o único que tem direito de se lamentar é o Olaria, que não ganhou e bateram nele”. (sic)

“Jornal dos Sports” – Retalhos da Rodada – Everardo Lopes 
“... Por isto mesmo é que, surpresa no duro, foi justamente o match de Álvaro Chaves. Uma peleja que intrinsicamente fora vencida pelo Olaria. Diz-se intrinsicamente, porque o fato real, palpável, o resultado irrecorrível foi o empate de dois a dois. Portanto, não se deseja daqui, em absoluto, subverter a ordem natural das coisas. Nem imitar certos torcedores, que depois de um resultado adverso, tantas elucubrações fazem , tantas hipóteses levantam, que acabam transformando a derrota virtual e irremediável em vitória hipotética: “Se não fosse aquela bola na trave”; “Se o juiz marcasse aquela penalidade”; “Se fulano marcasse aquele goal que não tinha castigo”... Não. Não é o que se pretende e é por isto mesmo que se prefere focalizar apenas o lado intrínseco do match de Álvaro Chaves. Isto é: o que realmente aconteceu: o fato consumado como fato, embora não homologado pelo arbitro. E aí a gente não pode esquecer aquele pênalti que Veludo defendeu de dentro e que seria a abertura da contagem para os bariris, numa fase de franco predomínio. O que faria com que o um a zero de fato e de direito, vindo depois para o Fluminense, não fosse mais um a zero e sim um a um. Tudo isto, é logico, dentro da relatividade das coisas, sabido que um simples lance pode alterar todo o curso posterior de uma peleja. Essa é aliás uma teoria esposada por Mario Filho e para a qual dizemos amem. Daí a relatividade das considerações”. 
“O certo, entretanto, o é que houve o fato do gol consumado, mas não batizado pelo juiz. E como àquela altura dos acontecimentos... a gente supõe que o tento invalidado pelo arbitro talvez precipitasse a vitória de que o Olaria andou tão perto” ...Deixemos prá lá a surpresa maior. Surpresa que não foi somente o empate quase derrota do ponteiro Fluminense em sua própria casa. Mas que se caracterizou por outros acontecimentos. Porque, convenhamos, sururu no campo do Fluminense não deixa de ser também uma surpresa. Notadamente se promovido pelos de casa, como foi o caso. Não entre os jogadores, mas na assistência, o que é pior. E do lado das sociais, o que é muito pior. A gente se habitua a olhar Álvaro Chaves à imagem de um templo. Com o respeito que se devota a um templo. Desse modo, quando se vê surgirem fatos como os de sábado, têm-se a impressão de um sacrário transformado em mafuá. Essa foi a outra surpresa de sábado nas Laranjeiras. Surpresa tanto mais acentuada, justamente porque não é comum acontecerem coisas assim no Fluminense. Em última análise: a surpresa desconcertante do sururu de sábado, sendo o melhor elogio que se pode fazer à tradição ordeira do Fluminense. Um sururu em que a botinada comeu solto não dentro, mas fora do gramado. Botinada no duro, na ampla acepção do termo. Porque a certa altura um paredro do Olaria foi obrigado a fazer de seu sapato a arma de defesa contra os agressores. Aquele sapato do paredro bariri, de um momento para o outro virou a funda de David do episódio bíblico, no match David versus Golias”. (sic)

“Jornal dos Sports” – Honra ao Mérito – Mario Julio Rodrigues 
O “SURURU” 
“A rodada começou no sábado. Atomicamente no pior dos sentidos. Com um “sururu” dos diabos. Justamente no estádio do Fluminense. Ou seja: no local tido e havido como infenso a tais acontecimentos. “Sururu”, aliás, o impossível acontece, que encheu de júbilos a recalcados. Que hoje pouco mais fazem do que se preocuparem com o Fluminense. Acompanhando-o, como o mais renitente dos torcedores por todos os campos da cidade. Como o inglês da velha anedota que ia ao circo todo o santo dia esperando ver o leão engolir o domador. É como acabou o pretexto da crítica à marcação por zona, em que pese umas ultimas ridículas tentativas não há muitos dias, o “sururu” foi ultra providencial. E a inevitável explosão de recalques surgiu. Claro está que discordamos inteiramente dos lamentabilíssimos acontecimentos. E ninguém, em sã consciência, pode ter outra atitude. Discordamos, isto sim, da pecha de anjinhos lançada sobre dirigentes e jogadores do Olaria. As pseudos pobres vítimas tomando como tomaram parte ativa em todos os incidentes. Dentro e fora das “quatro-linhas”. E até mais: como provocadores. Já que os dirigentes nada mais fizeram, até o princípio do “fecha”, do que provocar a torcida situada logo atrás de seu vestiário enquanto os jogadores no campo repetiam as violentas atuações não só deste como de outros campeonatos”. (sic)    
 O REVIDE 
“O erro do Fluminense, gravíssimo erro de qualquer forma, esteve no revide. No revide e na injustificável agressão, ou tentativa, ao bandeirinha.  No fundo, aliás, a perturbação que originou o conflito acabou atingindo mais o próprio time do Fluminense. Que apesar de tudo não jogou tão mal como querem. E se o empate ficou tido e havido como caído do céu foi unicamente pelas circunstâncias em que foi obtido. No último minuto do match. Ainda que não jogando bem – está para acontecer uma boa atuação do Fluminense em seu próprio campo – o Fluminense dominou a maior parte do jogo. Tendo chance, inclusive, para triunfar sem maiores atropelos. Como a bola desperdiçada bisonhamente por Marinho, novamente confuso e desordenado, minutos antes do primeiro gol do Olaria. O mesmíssimo Marinho que acabou saindo carregado nos ombros da torcida. Por empatar uma partida que ele próprio não soube transformar em vitória”. (sic) 
“HERR” ERICK WESTMAN 
“Claro que “herr” Erick Westman, o estucador, merece um capítulo à parte. Pela sua nova calamitosa arbitragem. E não valem as desculpas de surpresa pelas violências em campo já que o futebol sueco, não é à toa que existem remédios para memorias falhas, é um dos mais violentos do mundo. O que acontece pura e simplesmente é que o Sr. Erick Westman como juiz pode ser um bom estucador. O resto é um desejo, aliás muito natural, de passagens com um campeonato do mundo às portas. Que se vá, pois o Sr. Erick Westman. Não, porém, para que deixe de se espantar pelas nossas “selvagerias” e quatrocentos e cinquenta e três anos e sim por respeito ao público. Que paga para ver football. (sic) 

"O Globo" – Os Acontecimentos Lamentáveis em Álvaro Chaves – Legenda da foto publicada em 21 de setembro de 1953, Edição Matutina, Esportes, página 2. 
“Um dos atos da sucessão de incidentes lamentáveis ocorridos na peleja de sábado, disputada pelo Fluminense e Olaria em Álvaro Chaves. Depois do penalty marcado pelo juiz Westman, enquanto o bandeirinha José Monteiro assinalava offside de Washington, houve a cobrança e nova complicação, pois a bola entrou e o juiz não deu o gol. Atrás do arco e junto ao túnel do vestiário do Olaria, onde se encontravam os dirigentes e suplentes do team Bariri, surgiram alguns torcedores do Fluminense que entraram em luta com os suburbanos. O associado tricolor, que aparece caído ao solo e assinalado com o número 2, filho do desportista Paulo Coelho Netto, atracou-se com um olariense não identificado, que é visto procurando aplicar-lhe um golpe, enquanto o presidente do Olaria (n. 1), Sr. Many Crockat de Sá, aplica-lhe pontapés, tendo perdido a chulipa (n. 3). As cenas deprimentes estenderam-se ao gramado, com a agressão feita ao bandeirinha José Monteiro pelo torcedor tricolor que aparece assinalado pelo número 4, que foi atingido por cassetete de um Polícia Especial. Como atesta o sensacional flagrante de José Santos, foi assim que começou a série de ocorrências tristes”. (sic)

“O Globo” – Lamentáveis acontecimentos em Álvaro Chaves – Ricardo Serran
E aconteceu em Álvaro Chaves, justamente no campo em que menos se poderia esperar por algo parecido. A sucessão de episódios é inacreditável, mesmo para os que pensavam já ter visto tudo em football.  A vítima foi o Olaria__ jogadores e dirigentes__ mas quem mais sofreu com tudo foi o Fluminense, pelo que vai pesar de negativo na sua tradição de clube líder de disciplina. Confessamos que envergonhados que temos que transportar para o papel tudo o que nos foi dado a assistir na peleja. Não há como fugir a condenação dos responsáveis pelo espetáculo triste de sábado. Alguns pela participação ativa e outros pela ausência lamentável, a fim de procurar contornar a situação constrangedora a que foi submetida a delegação visitante.
Pode ser que às horas que correram depois do match, tenham permitido aos culpados o tempo para imaginar a extensão dos erros cometidos, mas estamos a adivinhar que talvez tenham aproveitado para agravá-los, buscando desculpas e situando-se em acusações despidas de valor. Houve, antes de mais nada, visível coação de elementos do tricolor sobre o juiz e intimidação aos adversários e os bandeirinhas. E não ficaram os exaltados, que estranhamente tinham apoio de apaixonados menos afoitos, no terreno dos gritos e ameaças, já que passaram a ação, em agressões a um dos bandeirinhas (José Monteiro), a dirigentes e suplentes do Olaria, no túnel dos visitantes. Sem alambrado, que não mais faz jus o Fluminense, depois do que ocorreu sábado, os que vão para campo para conquistar vitorias, fartaram-se de impor o que ditava os instintos. Teria sido melhor pra o esporte, que não fosse verdade o que de ruim houve em Álvaro Chaves. Piorando, a arbitragem coube a um juiz escandinavo, um homem do povo (estucador de profissão) que nos confessou tristemente depois do jogo: “No gentlemen”.
Acrescentando o que traduzimos a seguir: “Nunca imaginei que assistisse a coisa parecida. Não estou acostumado com isso”. (sic) 
UM PENALTY, O ESTOPIM
..., “Mas dois minutos depois iniciava-se a briga, o grande pretexto. Ataque do Olaria e o bandeirinha José Monteiro acenou, acusando offside de Washington, enquanto Pinheiro ingenuamente segurava a bola com as mãos antes de ouvir o apito do juiz. Como não houvera impedimento e o zagueiro fizera hands claro, Herr Westman apontou para a marca do penalty, acusando falta. Protestando, os players do Fluminense, Bigode à frente foram ao bandeirinha... (sic)

“Esporte Ilustrado” – Benjamim Wright 
Em uma peleja de nível técnico muito baixo o Fluminense, jogando em seus domínios conseguiu um difícil empate com o Olaria. A primeira fase que apresentou um desenrolar equilibrado, ofereceu ao espectador um Fluminense algo displicente em suas manobras, com a retaguarda falhando em alguns lances na grande área e um Olaria coeso em sua retaguarda e com seus atacantes manobrando com inteligência, procurando sempre as manobras pelos dois ponteiros em centros cruzados sobre a grande área tricolor. Os 45 minutos iniciais, a não ser o incidente surgido com um dos bandeirinhas, não chegaram a despertar maior interesse por parte dos assistentes” ... (sic)

"Esporte Ilustrado" – Benjamim Wright
... “Marinho foi um grande lutador, não se deixando amedrontar em momento algum, muito embora tenha deixado a cancha com a face completamente ensanguentada”. (sic)

“Esporte Ilustrado” – Benjamim Wright 
... “A arbitragem de Westman foi boa até os 15 minutos finais, quando então permitiu algumas jogadas ilegais no arqueiro Celso e um violentíssimo “foul” de Maxwell em Pinheiro, que deixou passar em brancas nuvens. De um modo geral, porém, atuou bem, sendo que no lance do pênalti, tendo consultado o bandeirinha e esse nada alegando, marcou a falta máxima que realmente existiu, muito embora seu auxiliar houvesse assinalado impedimento de Washington. Alguns alegam que a bola, ao ser batida a penalidade, penetrou na meta. Da posição em que nos encontrávamos, de sã consciência, não podemos negar nem afirmar”. (sic)  

“Correio da Manhã” – ... “Numa peleja cheia de incidentes o Olaria colheu expressivo empate com os tricolores – Invadido o campo e agredido o auxiliar de Erick Westman, este o maior culpado pelos lamentáveis acontecimentos – Outros detalhes” 
... “Aliás, o prélio travado entre tricolores e olarienses no estádio de Álvaro Chaves, foi dos mais acidentados que temos assistido e o único culpado de tudo isso foi apenas o juiz sueco Eric Westman, que com sua complacência e pouca energia deixou que os jogadores dessem botinadas à vontade”... 
...INCIDENTE 
“Justamente nesse tempo é que surgiu o lance que iria provocar a paralisação da partida por doze minutos e com a consequente substituição do bandeirinha José Monteiro, após invasão do campo e agressão de torcedores exaltados contra o auxiliar do árbitro. Aos vinte minutos houve um despretensioso ataque do Olaria, que o bandeirinha puniu a vanguarda do clube suburbano com impedimento, não tendo, todavia, o arbitro confirmado a marcação. Nesse ínterim, Pinheiro não prestando atenção a marcação de Westman segurou a bola com a mão dentro da área. Pênalti indiscutível que o juiz não titubeou em assinalar. Batida a falta por Washington, Veludo fez defesa parcial, permitindo que a bola penetrasse um palmo na sua meta para depois num lance rápido, auxiliado por Bigode, retirar com muita rapidez o balão de dentro da meta. Nesta altura, o bandeirinha José Monteiro, que se encontrava bem colocado fez repetidos gestos confirmando o gol. Erick Westman, indeciso como sempre, não tomou nenhuma decisão imediata, já que concomitantemente com a atitude do bandeirinha, o campo foi invadido pela torcida do Fluminense, que aos gritos de ladrão investiu contra o Sr. José Monteiro. 
 A polícia que era quase nenhuma foi impotente para conter os ânimos exaltados, resultando que o prélio ficou parado por doze minutos com invasão de campo de diretores do Olaria, que se confundiam com próceres tricolores e o povo. Serenados os ânimos, o campo foi evacuado e reiniciado o “match” sob uma atmosfera tensa de parte a parte, já com o Sr. José Monteiro substituído pelo Sr. Adelio da Silva. Tudo muito lamentável e digno de atenção de nossas autoridades que estão na obrigação de exigir maior policiamento nos campos de futebol, mormente em gramados como o do Fluminense, onde o alambrado não existe a exemplo dos demais campos, como aliás, determina a lei. Não se compreendendo, portanto, essa exceção no campo de Álvaro Chaves”....” O Fluminense, com apenas um tento a zero, perdia inúmeras oportunidades de aumentar o placar, devido aos sucessivos e infrutíferos passes dentro da área, inclusive uma cabeçada de Marinho, que ao que parece se preocupou em fazer pose, tendo Celso defendido com segurança”. (sic)

“O Globo” Edição de 22 de setembro de 1953 – “Marinho marcou o seu primeiro ponto no campeonato”
“Marinho terminou o jogo de sábado sangrando na face esquerda. Alguns minutos antes da conclusão do acidentado match, o centro-avante paulista havia ferido o supercílio esquerdo, numa pequena abertura que posteriormente teve que levar um ponto. Mesmo assim não parou para ser medicado: prosseguiu lutando bravamente, tentando, de qualquer maneira, o gol de empate. Soube persegui-lo e no final recebeu o prêmio de tê-lo obtido, em que pesem as circunstancias, não lhe cabendo evidentemente, a mínima parcela de culpa quanto à irregularidade do lance que originou o centro para a cabeçada espetacular. O comandante saltou num bolo de adversários, verdadeiro fecha-fecha, onde valeu tudo. Foi feliz, porque decretou o empate nos poucos segundos que restavam para completar o encontro. Acabou sendo carregado em triunfo, envolto na bandeira tricolor, conduzido até a boca do vestiário nos braços da torcida, feito herói em mais uma jornada.
 “Eu bem que já estava admirado...”  
No vestiário, logo após o banho, deitou-se na mesa de massagens e submeteu-se a curativos. Veio atendê-lo o Dr. Newton Paes Barreto.
 __"Quantos doutor"?   
Referia-se naturalmente, aos pontos que iria ou deveria levar. E a resposta foi de pronto, acompanhado de um sorriso irônico do médico: _"Desta feita, apenas um".
_"Bem que eu já estava admirado da demora deste ano... Pois até agora, neste campeonato, não havia levado nenhum..."
De fato, no turno, Marinho escapara, até então, dos pontos que vivem a persegui-lo com tamanha insistência. Recebera três na cabeça, mas em consequência da ligeira intervenção cirúrgica para a retirada de um quisto. De acidente, propriamente, esse fora o primeiro da temporada oficial. 
_"O ano passado fui o "recordista". Levei mais pontos que os assinalados na tábua de colocação dos concorrentes, por muita gente boa... Quantos mesmo, doutor?  
_"Não posso precisar, no momento, mas faço uma estimativa de uns vinte e cinco"... 
"Dei uma cabeçada no Edson"... 
Perguntamos a Marinho como se verificara aquele ferimento, esclarecendo o player que saltara para cabecear, porém, ao invés da bola, acertara a cabeça do Edson." (sic) 

Continua com "O torcedor indigesto."