Durante a carona, mais conversas sobre futebol. A mais marcante sobre o título de 1948, vencido pelo Botafogo em General Severiano.
Ademir comentou que o café das garrafas térmicas vascaínas deixou grogue meio time do Vasco. Na época, aconteceram reclamações, mas praticamente era impossível provar alguma irregularidade. Acrescentou que não sabe como conseguiu jogar até o fim.
Além disso, também houve o episódio da presença de pó de mico no vestiário dos vascaínos.
O que mais falava sobre o assunto era o Barbosa, que dizia sempre que chegou a ficar com as mãos em carne viva.
Se realmente aconteceu difícil provar, mas o fato a favor do goleiro é que naquela época eles jogavam sem luvas.
O que se reclamava na época é que a torcida do Botafogo ao fim do primeiro tempo soprou pó de mico sobre os jogadores vascaínos quando se encaminhavam para o vestiário.
Nas pesquisas que fiz não consegui nenhuma confirmação para os fatos citados, embora alguns autores tenham escrito algo a respeito.
A que me pareceu mais pertinente foi a que dava conta que um policial ou segurança do Botafogo esteve no vestiário vascaíno e convidou o roupeiro para ver o jogo e com o vestiário vazio alguém poderia ter colocado algo nas garrafas térmicas.
Argumentei que o Vasco já saía para o intervalo perdendo de por 2 a 0, ao que Ademir respondeu:
“É verdade, acho que entramos um pouco relaxados, ao contrário do Botafogo que entrou à toda e conseguiu um gol logo no início, praticamente de saída.
Isso deu um ânimo a mais a seus jogadores e a torcida, o que nos dificultou bastante".
E completou: “O time do Vasco era melhor, base da Seleção Brasileira e campeão invicto do ano anterior, quando eu ainda estava no Fluminense e tinha condições de reagir”.
Apesar de admitir que seria impossível confirmar a adulteração do café, disse que ele próprio sentira uma espécie de leve tonteira durante grande parte do segundo tempo, suas pernas pareciam pesadas e tinha dificuldade para dar piques, suas armas mortais que os tricolores lembravam bem.
Isso é verdade porque tanto meu pai como meu tio não cansavam de me falar sobre suas arrancadas mortais.
Mesmo sem confirmação, não tenho como duvidar do antigo ídolo, campeão inúmeras vezes, não precisaria fingir uma tonteira para justificar qualquer derrota.
Ademir falou bastante de sua passagem no Tricolor, a admiração pelos craques com que teve a oportunidade de conviver, em especial Castilho e Orlando.
Sobre o Vasco não falou muito, talvez em respeito à minha paixão pelo Fluminense.
Encontramo-nos duas ou três vezes depois por ocasião de alguns jogos do Flu no Maracanã, mas os últimos anos de uma faculdade em tempo integral não me permitiu muitos momentos livres para novas conversas.
A última vez que nos vimos foi em frente ao antigo Canecão, quando paramos lado a lado num sinal vermelho.
Eu o vi primeiro e o chamei, batemos um papo rápido e quando o sinal abriu, ele gritou: “liga para mim para não perdermos o contato”.
Respondi com um sinal de positivo, mas nunca cheguei a ligar.
Depois de formado e trabalhando fora do Rio não tivemos chance de nos ver novamente.
Hoje me arrependo de não ter dado a importância devida a uma amizade que tinha tudo para ser duradoura, apesar da diferença entre nossas idades, afinal tratava-se de um ídolo de minha infância e que tinha muitas histórias para contar.
Uma pena!
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