11/12/2010 07h45 - Atualizado em 11/12/2010 10h08
Novo presidente, Peter Siemsen reclama de postura da diretoria atual
Mandatário fala ainda sobre possibilidade de fazer leilão de ingressos, sócio-torcedor, parceria com a Traffic e novos investimentos da Unimed
Por Cahê Mota e Diego Rodrigues Rio de Janeiro
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Peter Siemsen durante eleição nas Laranjeiras
(Foto: André Durão / Globoesporte.com) |
O momento é de alegria. A situação no clube parece tranquila, mas uma questão política incomoda a nova diretoria, que tomará posse no dia 20 deste mês em cerimônia nas Laranjeira. Sem muitas informações, o novo presidente, Peter Siemsen, responsável por comandar o clube nos próximos três anos, reclamou da postura da diretoria atual em relação a falta de colaboração no momento de transição do poder.
- Não esperava outra coisa. Por isso sou oposição há tanto tempo. São atitudes que não considero adequadas, mas respeito e vou procurar trabalhar dentro do que existe.
Um dos casos que chamou a atenção de Peter Siemsen foi a assinatura de um contrato com a Traffic nos últimos dias. O acordo é válido pelos próximos dez anos com participação da empresa na gestão do marketing do clube.
- Tenho que ver o contrato e o que posso fazer com ele. A Traffic pode ser um forte parceiro, mas preciso conhecer os termos do contrato e a proposta do projeto. Pode ser fantástico, mas tenho que analisar. Não tenho nenhum juízo sobre isso enquanto eu não conhecer.
Apesar dos problemas, o presidente espera um 2011 melhor. A primeira iniciativa é ampliar a receita e equilibrar as finanças do clube com uma reestruturação das dívidas. Para isso, não descarta contar com a ajuda do patrocinador em áreas fora do futebol - atualmente a Unimed paga parte dos salários de jogadores e comissão técnica.
Outro projeto do novo mandatário é em relação ao sócio-torcedor. Peter Siemsen acredita que, com uma boa estrutura, pode criar um vínculo maior entre torcida e clube e diminuir as confusões na venda de ingressos, por exemplo. O presidente não descartou ainda o leilão de ingressos.
- Estamos avaliando soluções possíveis e até mesmo a solução usada na Copa da África do Sul, onde houve leilão dos últimos blocos de ingresso. É uma possibilidade.
Peter Siemsen contou ainda que o futebol tricolor pode deixar Laranjeiras no ano que vem e se mudar para um centro de treinamentos já pronto, com uma estrutura melhor que a da sede do clube - o local seria utilizado até a contrução de um CT próprio.
GLOBOESPORTE.COM: O Fluminense assinou nos últimos dias um contrato de parceria com a Traffic em relação ao marketing. O que você sabe sobre esse acordo?
Peter Siemsen: Está assinado desde semana passada. Não conheço.
Mas você tem o poder de reprovar se for algo que não o agrade?
Tem que ver o contrato e o que posso fazer com ele. A Traffic pode ser um forte parceiro, mas preciso conhecer os termos do contrato e a proposta do projeto. Pode ser fantástico, mas tenho que analisar. Não tenho nenhum juízo sobre isso enquanto eu não conhecer.
Como você, que vai comandar o clube nos próximos três anos, se vê nessa situação de chegar de mãos atadas, com contrato assinado?
Eu já sabia que ia encontrar este tipo de situação em vários sentidos. Inclusive o site do clube está cedido por cinco anos por um valor ínfimo. Eu não esperava outra coisa. Eu esperava encontrar situações onde eu teria que avaliar estrategicamente qual é a situação, qual é o custo, qual é o benefício e tomar decisões, o que é normal. Sei que a BWA tem contrato com o Fluminense até o final de 2012. Não conheço os termos do contrato. O Horcades (atual presidente) não falou comigo desde a eleição, nem no dia da eleição. Estou conversando com os funcionários do clube para tentar preparar a transição. Todas as questões do clube serão analisadas. No momento meu maior problema é fluxo de caixa. Meu foco no momento é finalizar o ano em dia. Hoje o Fluminense tem um problema grave para fechar o ano.
Ao que parece, então, a grande questão é a falta de boa vontade da gestão atual para colaborar que 2011 seja mais tranquilo.
Não esperava outra coisa. Por isso sou oposição há tanto tempo. São atitudes que não considero adequadas, mas respeito e vou procurar trabalhar dentro do que existe. Teve apenas uma pessoa (da diretoria) que ligou e se colocou à disposição, que foi o vice de marketing, o Daniel. Foi o único que ligou para oferecer o apoio necessário.
Até que ponto esse período até o dia 20 (dia da posse) pode fazer falta, já que você poderia chegar com tudo um pouco mais preparado?
Atrapalha um pouco, mas meu foco hoje é financeiro, cumprir compromissos. Essa é a coisa mais importante no momento. O projeto de CT está em andamento e é uma coisa que independe do foco nas finanças. E o futebol será tratado em breve com a comissão técnica.
Nos últimos dias tem conversado sobre negociações?
Nós temos conversado muito é sobre orçamento e planejamento. A parte técnica não porque envolve um time que estava na disputa do campeonato. Agora teremos o relatório da comissão técnica avaliando o grupo e apontando objetivos. Em cima disso vamos trabalhar de formas conjuntas.
Há a possibilidade do Alcides Antunes continuar como vice de futebol?
Não sei. Procurei preservar o futebol da situação política nos últimos meses. A eleição foi em uma reta final de Brasileiro e o time estava disputando o título, por isso procurei blindar o futebol em relação à política. Agora o pessoal acho que ainda está meio de ressaca, comemorando as festas e acho natural começar a discutir no final desta semana.
Como vai ficar o cargo do vice de futebol, já que você planeja ter um gerente de futebol?
Fica mais institucional, até porque o cargo não é remunerado.
Já tem um nome para assumir essa função?
Não. O mercado tem alguns nomes, mas ainda estamos trabalhando. Eu não fiz a reunião com ninguém do futebol desde que ganhei a eleição e desde que o Fluminense foi campeão. Não dá para adiantar nada.
A Libertadores é o grande foco?
O ano inteiro vai ser o foco. O estilo Muricy é de muito trabalho. Quando faz o estilo de muito trabalho, você foca em todos os jogos. Cada jogo é uma competição. Ele foca o ano inteiro.
Em relação à Unimed, o investimento vai aumentar, até em função da disputa da Libertadores?
O investimento vai continuar, mas por enquanto não discutimos números absolutos. A Unimed mantém o investimento, que é considerável. E se houver a oportunidade de conversar para aumentar o investimento, melhor. No Fluminense tudo que for planejado tem que casar com o orçamento.
Mas esse investimento do patrocinador pode existir também fora do futebol, além de jogadores e comissão técnica, como no modelo atual?
Temos uma relação de confiança e respeito mútuo. Até questões que não estão no contrato podem ser trabalhadas como opções, como no caso de Xerém, por exemplo. Tudo depende de orçamento, do planejamento e da vontade mútua de alcançar outros objetivos.
O Fluminense nos últimos anos perdeu muitos jogadores da base, como o Wellington Silva, os gêmeos Rafael e Fábio e agora pode perder o Rafael Pernão para o Chelsea pela negociação que teve para contratar o Deco. É uma coisa que vai buscar blindar, já que os jogadores da base viraram mais uma moeda de troca?
A ideia é que a base se torne um projeto da presidência. Já tenho meus nomes e no dia 20 serão anunciados. Quem vem acompanhando o Fluminense percebe que Xerém vem caindo muito. É uma situação muito ruim, de emergência e ações pontuais. O Fluminense não teve o cuidado necessário nos últimos anos com Xerém, o que causou um prejuízo grande. E para retomar precisa uma reestruturação grande, com mudança de pessoas.
Mas o fato de não ter muitos jogadores da base no time principal também não passa pelo grande número de estrelas que são pagas pelo patrocinador?
Não. Acho que não está havendo um trabalho correto de transição. Normalmente eles aparecem quando o clube está mal. E depois de um bom desempenho, são vendidos para pagar salários atrasados. Isso é um problema de planejamento do clube, não do patrocinador.
Em relação ao Centro de Treinamento, estipula um prazo para que o Fluminense já se mude para esse CT?
Não posso estipular prazo, pois prazo depende de recursos e a obra anda mais rápido ou mais devagar conforme o recurso vai sendo utilizado. A ideia é tentar resolver até janeiro o terreno, a estrutura financeira, já que o Fluminense não tem recurso. Hoje o recurso do Fluminense tem que ser usado na troca de uma dívida cara por uma dívida barata. O Fluminense tem um custo financeiro alto. Nosso foco é reestruturar a dívida e promover o choque de gestão do clube, reavaliando funções, valores, avaliar política de remuneração, passar um pente fino em tudo.
Mas o Fluminense segue nas Laranjeiras enquanto não constrói o CT ou pode treinar em um local já pronto?
Temos uma situação bem encaminhada em um local para o ano que vem. Ainda precisamos acertar os detalhes da negociação e o problema é que não há aparelhos de musculação e fisioterapia. Mas não posso divulgar o local, pois se trata de uma instituição conhecida.
Pretende usar esse momento, com o Fluminense campeão brasileiro, para criar um plano de sócio-torcedor?
O momento é ímpar para criar uma relação. Precisa de duas coisas: criar relação de associação com a torcida em número alto, para que o torcedor realmente se torne um cidadão tricolor, tenha dever cívico com clube e possa cobrar em uma troca equilibrada. Eu pago, contribuo, tenho uma série de benefícios, tenho o canal de venda com o maior conforto possível, devo ter o direito de cobrar transparência e organização, mas para isso tem que pagar. E tem que criar outro modelo de relacionamento com a torcida que é o de cadastramento dela. O Fluminense hoje quando vende uma propriedade de marketing, ele vende uma exposição de marketing. Não tem métrica de quanto ele consegue atingir de fato, a não ser a exposição. A ideia é cadastrar a torcida e ter um banco de dados para, na hora de vender a propriedade, dizer que tem um canal de comunicação para o consumidor direto, para venda direta ao consumidor por classes, por idade, localização, renda... Temos dois caminhos: o de criar uma base e outro de criar relação de compra e venda. O cara paga para ter benefício envolvendo ingresso anual, facilidade de compra de comunicação, acesso à conteúdo restrito do torcedor, envolvendo também voto e uma série de outras coisas.
Isso pode ajudar a evitar casos como da venda de ingressos, que ficou marcado pela desorganização nos últimos anos?
Não tem dúvida. Nosso foco é acabar com isso. Mas tem que lembrar sempre que aqui no Brasil tem uma discussão muitas vezes problemática. Não se pode transformar a defesa do consumidor em um ato de prejuízo ao mercado. A discussão de preço tem que ser sempre equilibrada, em um cálculo baseado na oferta e procura. Se a oferta é demasiada para a procura, vai sobrar ingresos e tem que ter um ponto de equilíbrio. Se a demanda é muito maior que a oferta, como no caso do jogo com Guarani (jogo do título), você acaba enriquecendo intermediários, no caso os cambista. Estamos avaliando soluções possíveis até mesmo a solução usada na Copa da África do Sul, onde houve leilão dos últimos blocos de ingressos. É uma possibilidade. Hoje tem diversos sites com promoções de venda. Isso é muito bacana. Se isso é permitido em benefício do consumidor para um fim de semana no hotel, serviço em loja de fotografia, para venda de produto e teatro, porque não pode fazer para um jogo.