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A atitude de Dodô ao ser substituído no intervalo do jogo com o Sport gerou críticas públicas do presidente do Fluminense, Roberto Horcades, que não descartou nem a possibilidade de rescindir o contrato do atleta.
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"Desde que assumi a presidência do Fluminense, existem quatro lemas que respeitamos integralmente: disciplina, hierarquia, ousar e pensar grande. Se existir um caso de indisciplina, é porque um desses lemas está sendo ferido, e isso não vou tolerar. Vamos esperar o posicionamento do Cuca para depois tomarmos a decisão mais adequada. O que posso dizer é que o Fluminense é maior que qualquer nome", disse Horcades.
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Antes de qualquer tomada de decisão mais drástica, nosso passivo Presidente deveria refletir sobre os fatos que desencadearam essa pseudo-rebeldia de um dos atletas mais habilidosos do plantel tricolor.
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No oba-oba das contratações para a montagem do plantel que iria disputar a Copa Libertadores, dentre os nomes aventados, o Fluminense contratou seis atletas. Washington, Dodô, Conca, Leandro Amaral, Ygor e Gustavo Nery.
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Aqueles que acompanham o futebol um pouco mais de perto observaram de imediato que a coisa não era séria. Senão, vejamos:
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MANCADA NÚMERO 1: Leandro Amaral era atleta vinculado ao Vasco e estava sendo contratado com base numa simples liminar, instrumento obtido facilmente em qualquer plantão judiciário. Não garante nada, apenas mantém o "status quo" de uma situação, cujo mérito virá a ser julgado oportunamente. Ninguém no clube se dispôs a fazer contato com o Vasco da Gama, visando à contratação do atleta, ainda mais sabendo que outro atacante contratado teria que passar por um esdrúxulo julgamento na FIFA. O fim da novela é sobejamente conhecido para ser relembrado aqui.
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MANCADA NÚMERO 2: Gustavo Nery. Completamente fora de forma física e técnica. Teve a hombridade de pedir rescisão de contrato.
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MANCADA NÚMERO 3 (A MAIS GRITANTE): Ygor foi preferido ao Fabinho, hoje no Corinthians, sob a alegação insana que a liberação de seus direitos federativos seria demorada. Depois de tudo acertado, o Fluminense desistiu de contratar o Fabinho numa sexta-feira, sendo que na segunda, já liberado, o jogador foi para o Corinthians.
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Ficamos com o Ygor e fomos obrigados a agüentar a sua pavorosa presença. Graças a esse aleive, pudemos vê-lo entregar aquela bola absurda no pé do atacante do Arsenal, que ficou livre para marcar o gol; vimos o limitado Aloísio ganhar na velocidade e driblá-lo com a maior facilidade na lateral direita e cruzar para o Adriano marcar o gol do São Paulo, no Maracanã, que quase nos elimina; vimos o Ygor contra o BOCA, novamente no Maracanã, levar duas saraivadas de dribles do Dátolo na mesma lateral direita, que deu origem ao cruzamento para o gol do Palermo; assistimos a essa desastrosa contratação ser facilmente driblada contra a LDU, na final da Libertadores, agora na lateral esquerda, o que permitiu o cruzamento para o gol que nos tirou o título. Tudo isso, além das duas falhas bisonhas nos gols decisivos do Botafogo que nos eliminou das Taças Guanabara e Rio. A manutenção do Ygor depois de todas esses erros trouxe em muitos torcedores dúvida sobre a real causa da insistência.
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Os amigos tricolores devem estar perguntando o que tem a ver a atitude do Dodô com essa rememoração de fatos tristonhos. Digo que tem tudo a ver. É só colocar os pingos nos "is", juntar "dois e dois" que a situação ficará clara.
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Pois bem, ao contratar o seu afilhado Ygor, Renato teria que engendrar um modo de mantê-lo como titular. Começou barrando o Arouca. Não deu certo. Conca e Thiago Neves se mandavam para o ataque e a pobre da zaga sem o Arouca se mostrava incapaz de suprir as falhas do protegido. Barrou o Conca. Não deu certo, a criatividade do meio campo diminuiu, o time passou a jogar pior e a galera chiou para valer. A solução óbvia seria a barracão do Cícero. Aliás, ele já estava barrado desde o jogo com o Cardoso Moreira.
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Como o padrão de jogo da equipe não fluía com três atacantes de ofício, barrou-se o Dodô. Tudo bem. O jogador aceitou a barracão normalmente, pois afinal de contas eram nítidas as supremacias física e técnica do Leandro Amaral.
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Como o velho Eurico não é bobo nem nada, levou-o de volta para São Januário. Ainda "sopa no mel". Dodô voltou a ser titular e o time começou a triturar os adversários da Libertadores. Ygor continuava fazendo suas mancadas, mas o time ganhava.
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Aí se deu o problema. Cícero recuperou a forma dos tempos do Figueirense. Suas apresentações nos treinos e nas eventuais substituições a Thiago Neves ou Conca nos jogos oficiais o credenciavam à titularidade. Segundo volante nato era a ameaça natural para o protegido do técnico, que logo tratou de colocá-lo em outras funções: meio campo e até atacante.
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Sobrou novamente para o Dodô. Sua grave contusão foi o motivo ideal para a barração. A partir daí, o atleta começou a dar mostras de insatisfação com a reserva. Pô tem dó, ficar na reserva para o Ygor ser titular, não dá para agüentar.
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O boicote seguiu descarado, mesmo com o risco da perda do título tão almejado e acabou por acarretar a situação quase insustentável.
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Aos que duvidam da história, sugiro a leitura do artigo de Caio Barbosa, abaixo reproduzido.
Era Renato: dos jogos inesquecíveis ao desmanche na profissionalização
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Técnico, mais uma vez, fez história no clube, mas sua vaidade arrasou o mais importante projeto da gestão Roberto Horcades
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Caio Barbosa, Rio de Janeiro
Na época, o presidente Roberto Horcades minimizou os problemas e garantiu que o projeto de profissionlização do futebol tricolor não foi deixado de lado.
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- "Só quem saiu foi o Fábio Mahseredjian, por causa de alguns problemas. Mas isso é assim mesmo, faz parte da coisa. O restante continua. O departamento médico é o mesmo, a estrutura também" – contemporizou.
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É tricolores, um fato é certo, por tudo isso não conseguimos ver juntos em campo uma vez sequer Arouca, Cícero, Conca e Thiago Neves, sem dúvida o melhor meio campo formado pelo Fluminense desde 1984.
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Chega o Cuca e mantém o Dodô na reserva. De jogadores melhores, autênticos craques? Não, simplesmente de ex-titular do time rebaixado do Corinthians e reserva da fraquíssima equipe do Paris Saint-Germain. Foi uma demonstração clara de que o entrevero ocorrido anteriormente no Botafogo não havia sido esquecido.
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Francamente, ainda falta essência para que o Fluminense esteja pronto para vencer competições de alto nível. Carecemos de profissionais que entendam mesmo do riscado, que saibam planejar com seriedade, sem aceitar imposições unilaterais de técnicos que, muitas vezes, colocam seus projetos pessoais acima dos interesses do clube.
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Erros todos cometem, até mesmo os clubes acostumados a grandes conquistas internacionais. Os verdadeiros profissionais, no entanto, sabem reconhece-los e aprender com eles. É assim que se cresce em qualquer atividade.
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E o que mais dói na carne tricolor é saber que o Fluminense é um dos pouquíssimos clubes do país com um patrocínio de porte, desperdiçado pela falta de visão profissional.
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Reflitam sobre tudo isso e vejam se o Dodô é realmente o maior vilão desse imbróglio. Pensem se existe no país algum clube com dois atacantes como Washington e Dodô que, condicionados adequadamente, e municiados por um meio campo inteligente, poderão voltar a ser o terror das defesas adversárias.
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É isso aí.
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Dá-lhe Fluzão! Cacete nos urubus! Não podemos perder dessas barangas!
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