A semana é de preparo para os tricolores. Sábado, o início da Taça-Rio e quarta-feira, a estréia no Maracanã pela Libertadores. Deixemos de lado os problemas do time, as idiossincrasias de nosso técnico e as bobagens da diretoria, pois esses fatos já foram sobejamente dissecados e debatidos. O momento é de dar apoio e tranquilidade ao nosso Fluzão e nada melhor do que viajar no tempo, para que a galera mais nova possa ver como nosso acanhado estádio já teve seus dias de glória.
Pois é, tricolores, o campo que comportava mais de 25 mil pessoas e que foi palco de partidas da Seleção Brasileira, é hoje um arremedo de estádio, devido à incúria e incompetência de políticos, engenheiros e arquitetos, que grassavam no estado nos idos de 1960.
Com a construção do túnel Santa Bárbara, surgiu a necessidade de se duplicar a rua Pinheiro Machado. O traçado, escolhido pelos doutos, passaria pelo terreno do estádio. Depois de muitas discussões e reclamações, o Fluminense teve, em 1961, parte de seu terreno desapropriada. Todo o lado contíguo à rua Pinheiro Machado foi demolido. As construções mais recuadas permaneceram rentes à rua, separadas por um pequeno muro de tijolinhos aparentes.
Não se pode precisar se houve estudos alternativos para a construção da nova via, mas provavelmente inexistiu vontade suficiente para tentar efetivar a desapropriação do outro lado da rua. Como consequência, o estádio acabou sendo esquartejado. Muito tempo mais tarde, o Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural decretou o tombamento do estádio das Laranjeiras. Não se tem conhecimento por que tal atitude não foi efetivada antes.
A foto nº 1, abaixo, mostra a vista aérea de todo o complexo, em 1919. Só existia um lance de arquibancada.
Na foto nº 2, da mesma época, a imagem de um jogo num domingo à tarde. Observem um detalhe interessante: naquela época, não havia alambrados e ninguém invadia o campo. Era um povo educado.A foto nº 3 retrata a partida inaugural do Campeonato Sul-Americano de 1922, entre Brasil e Chile. Observem que as arquibancadas foram ampliadas, com a construção do segundo nível. Destaque para o grande número de torcedores que assistiram à partida de cima do morro vizinho ao complexo, devido à falta de ingressos. Pode-se ver, ainda, à direita da foto, as encostas recém desbastadas do Morro Azul.
A foto nº 4, na sequência, mais nítida, dá uma idéia melhor de como ficou o estádio após a ampliação.
Tive a oportunidade de assistir a vários jogos ainda com essa configuração. É claro que não foi em 1922, mas bem depois. Lembro-me de um em especial, quando moleque, pois não tinha nada a ver com o Fluminense. Meu tio, rubro-negro roxo, convenceu-me a ir assistir a um Flamengo x América em troca de sorvetes e pipocas. Por que não? Afinal o jogo era no campo do Fluminense. Na realidade, estava muito mais interessado no jogo do Flu com o Canto do Rio, em Niterói, e que só pude acompanhar pelo placar. O Flu ganhou de 6 x 2 e eu me enchi de sorvete. O resultado de Flamengo e América? Sinceramente esqueci.
Pela foto nº 5 tem-se uma idéia melhor do interior do estádio, que comportava, além do campo de futebol, uma pista de atletismo. O detalhe da falta de alambrados é mais nítido nessa imagem. A parte da arquibancada, em destaque, foi desapropriada e totalmente demolida.
Não era permitido aos sócios jogar no campo para não estragar o gramado. Mas o clube dava uma "colher de chá", liberando a pista de atletismo para a realização de peladas. Os "mais velhos" usavam a força para jogar primeiro. Às vezes, algumas meninas iam assistir às peladas das arquibancadas sociais e era ótimo, pois aí os "mais velhos" preferiam paquerar e deixavam a pista livre para a molecada. Bons tempos aqueles!
A foto nº 6 retrata o momento de maior tristeza para os tricolores: a demolição da parte lateral das arquibancadas, que viria a mutilar irremediavelmente o charmoso estádio. Nós, tricolores, principalmente os daquela época, desejamos que os responsáveis por essa atrocidade estejam descansando nos lugares que merecem. Quem sabe nos "quintos dos infernos"?
A última foto mostra o monstrengo ora existente e que não tem sido utilizado nem para os jogos de pouco apelo, porque a Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e demais órgãos envolvidos, desconhecendo a tradição pacífica e educada da torcida tricolor, colocam empecilhos para sua utilização. Atualmente tem servido apenas para treinamento da equipe de profissionais.
É isso aí, tricolores. Boas Taça Rio e Libertadores da América.