Durou pouco o nirvana tricolor.
A transformação que maravilhou a todos, inclusive
os conhecidos cronistas antiéticos e detratores contumazes do Tricolor
esvaiu-se.
E o Fluminense, de uma hora para outra deixou de
ser considerado o melhor time do campeonato e candidato real ao título para ter
questionada até a condição de postulante à vaga na Libertadores.
Alguns mais afoitos já chegaram a alertar sobre o
perigo de novo rebaixamento.
Exageros à parte, o fato é que o estilo de jogo
vistoso e livre dos marcadores brucutus, que há tanto assolam o futebol
brasileiro, desapareceu.
O time desandou e desandou da pior maneira
possível: empate com o Coritiba e derrotas para América-RN e Botafogo.
Sem nenhum demérito para a grandeza desses
clubes, qualquer avaliação prévia desses jogos sinalizaria para três tranquilas
vitórias tricolores, face às diferenças entre os atuais elencos envolvidos.
E quais seriam as causas dessa queda vertiginosa?
Difícil precisar, embora acredite que a maior
parcela de culpa caiba ao próprio Cristóvão.
E aí é que pergunto: o que aconteceu com aquele
técnico moderno que em poucos meses livrou o Fluminense dos abomináveis sistemas
eivados de retrancas e chutões, marcas registradas da ultrapassada maioria dos
técnicos brasileiros?
Suas últimas declarações não encaixam e deixam sempre
uma ponta de dúvida sobre a real queda de rendimento.
Aceitar também com passividade as alegações dos
atletas sobre cansaço sem questionar como poderia um elenco milionário estar
exaurido passadas apenas cinco rodadas depois dos novos períodos de férias e
inter temporada, proporcionadas pelo recesso da Copa é outro ponto incompreensível.
E, ao aceitar as desculpas, por que não deixou de
fora todos os que se diziam “exauridos”, principalmente no jogo de volta com o
América-RN, ideal para isso?
A realidade é que ele praticamente fechou o grupo
em cerca de quinze atletas, relegando os demais à condição de meros auxiliares,
quase sem chance de aproveitamento.
É verdade que tentou algumas opções, logo
descartadas e aos poucos as eventuais sombras aos “eleitos” passaram a ser descartadas, o que transformou o
Fluminense provavelmente no clube do Brasil que mais possui jogadores
emprestados.
E por dispor de pouca gente confiável para ele, quando
precisou mexer no time desandou a cometer erros.
Substituiu mal nos três jogos e Cícero foi sua
vítima preferida, o que enfraqueceu por demais um dos melhores meios de campo
do país.
Deveria ter em mente que a titularidade vitalícia
acomoda, ainda mais em se tratando de jogador brasileiro, manhoso por natureza.
Se todos do elenco seguissem o exemplo do Conca a
situação poderia ser bem diferente.
Apesar de ter percebido o problema e ter sinalizado
sobre a necessidade de mudanças até agora não as efetivou, não sei se por falta
de confiança no restante do elenco ou por receio de executá-las.
O modo como justifica as substituições também não
agrada porque tendem a desviar o foco de seus erros, transferindo-os
subliminarmente aos atletas, como pode ser observado em suas declarações após o
jogo de ontem.
“_ O Fred é um jogador que atua como pivô. Como a
equipe não teve a mesma movimentação, a mesma posse de bola, criamos muitas
jogadas de lado do campo. Tem que facilitar o jogo para ele ou qualquer outro
centroavante que jogue na nossa equipe com essas características. A equipe não
conseguiu fazer isso de uma forma melhor e então ele ficou muito isolado. Por
isso, coloquei o Walter para fazer companhia. Tanto é que ele e o Walter
tiveram oportunidades depois de fazer os gols”. (sic)
A interpretação pura dessas palavras pode levar os
mais desavisados a inferir que a causa da queda de rendimento reside na
presença do Fred, o que não é verdade, visto que ele esteve ausente durante
todo o tempo do jogo contra o Coritiba e ao sair no intervalo contra o
América-RN o time vencia por 2 a 1.
Ainda que a entrada do Walter tenha proporcionado
as chances descritas, questiono por que não entrou no lugar do Sobis ou mesmo
do Valencia, pois no fundo a verdade nua e crua é que a saída do Cícero
desarrumou o meio de campo e deu chances ao Botafogo para fazer os seus gols.
Pior ainda quando justificou a derrota com essa
pérola: “_Durante
o jogo inteiro houve troca de domínio e muitas vezes a diferença é quando uma
equipe faz o primeiro gol. Poderia não ter sido dessa forma, porque mesmo
levando dois gols nós tivemos quatro oportunidades na frente do Jefferson. Se tivéssemos sido mais eficientes nesse
aspecto, o resultado seria outro”. (sic)
Ou seja, muito parecido com as posições
arrogantes daqueles técnicos manjados na base do “eu ganhei, nós empatamos, eles perderam”.
Uma pena porque declarações desse tipo geralmente
levam o técnico a perder o grupo.
Não advogo, entretanto, a substituição do
treinador.
Sinceramente não vejo no Brasil ninguém melhor,
até os mais renomados trabalham na base da retranca.
Ideal para mim seria a contratação do Sampaolli,
mas isso é um desejo impossível de acontecer.
Por isso, mantenho as esperanças no Cristóvão.
Pode ser uma má fase passageira, mas inteligente
como é mais cedo ou mais tarde há de perceber que Marlon é melhor que o
Elivélton e que Carlinhos atua como sonâmbulo desde o título de 2010 e merece
com toda a certeza amargar a reserva por algum tempo.
Um pouquinho de audácia poderia dar uma chance ao
Fernando, que brilhou nos juniores e em alguns jogos no time de cima. Por que
não arriscar já que o titular não consegue mais acertar um cruzamento sequer?
E se não der certo o que tem a perder se com os
atuais o time desandou?
O problema é que tenho a nítida impressão de que o Cristóvão não gosta de trabalhar com a "prata da casa".
Vamos Cristóvão, vamos voltar àquela postura destemida.
E DÁ-LHE
FLUZÃO!
DETALHES:
CAMPEONATO BRASILEIRO – 15ª RODADA
Botafogo 2 x 0 Fluminense
Local: Estádio Mané Garrincha, Brasília (DF); Data: 17/08/2014
Árbitro: Marcelo Aparecido de Souza (SP)
Auxiliares: Emerson Augusto de Carvalho (SP) e Marcio Luiz Augusto (SP)
Gols: Daniel, aos 19' e Zeballos, aos 22' do segundo tempo
Cartões amarelos: Bruno e Valencia
Botafogo: Jefferson; Edilson, BolÍvar, André Bahia e Junior Cesar (Julio Cesar, 36'/2ºT); Airton, Gabriel, Ramírez e Daniel (Rogério, 35'/2ºT); Zeballos e Ferreyra (Bolatti, 30'/2ºT). Técnico: Vagner Mancini.
Fluminense: Cavalieri; Bruno (Diguinho, 30'/2ºT), Elivélton, Henrique e Carlinhos; Valencia, Jean, Cícero (Walter, 13'/2ºT) e Conca; Rafael Sobis e Fred. Técnico: Cristovão Borges.
Um comentário:
O desfalque em cima da hora do Wagner fez muita diferença, embora não tenha sido só isso, naturalmente, mas o jogo poderia ter sido outro com ele em campo.
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