Em 1941,
atendendo a convocação de seu país, meu pai e seu irmão André apresentaram-se na
Embaixada da Holanda no Rio de Janeiro.
Meu pai
foi reprovado por ter miopia grave e usar óculos com lentes "fundo de
garrafa", mas André na plenitude de seus dezoito anos foi aprovado e
partiu para um período de treinamento no Canadá, tendo sido incorporado ao
Exército da Holanda em junho de 1942.
Combateu
por cerca de três anos na Inglaterra, França, Bélgica e Holanda, conforme
atesta o certificado que recebeu da Embaixada Holandesa, que ele exibia com
orgulho sempre que havia oportunidade.
Na
verdade, segundo ele, como a Inglaterra não chegou a
ser ocupada pelos alemães, a passagem por lá foi quase um passeio em
comparação às agruras que enfrentou nos campos de batalha dos demais países.
Postal enviado em 06 de agosto de 1943 da cidade de Blackburn, Inglaterra. |
Com o fim
da guerra teve a opção de ser incorporado ao Exército.
Ao preferir
voltar ao Brasil, onde já se encontravam seus familiares, recebeu o convite de
servir como soldado na Embaixada da Holanda no Rio de Janeiro.
Mais tarde,
com a chegada ao Brasil da KLM__ Companhia Real Holandesa de Aviação,
candidatou-se a um cargo e apresentou seu currículo onde destacava ter
combatido na guerra pelo Exército Holandês, além da fluência escrita e falada
nos idiomas holandês e português.
Era o
candidato certo, no lugar certo e na hora certa e que se tornou peça chave na
companhia porque naquela época os holandeses ocupantes dos cargos de direção,
apesar de poliglotas, não dominavam plenamente o português, “arranhando” apenas
poucas palavras.
Além do
português e do holandês, André também era fluente em inglês e francês, condição
que lhe possibilitou galgar cargos importantes em pouco tempo.
Há que se
destacar que logo depois na década de cinquenta as viagens ao exterior de
clubes brasileiros cresceram sobremodo.
Inúmeras
foram as excursões e participações em torneios na Europa para onde a KLM
possuía uma das maiores malhas.
Cabe
acrescentar que o nosso calendário não era a loucura de hoje.
O
campeonato Brasileiro não existia, as competições eram estaduais ou regionais e
a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) cuidava basicamente da Seleção
Nacional e do Torneio de Seleções Estaduais e assim não influenciava tanto os
grandes clubes, todos sem exceção com elencos estelares.
André
passou a coordenar a parte aérea de muitas dessas excursões e acabou
desenvolvendo amizade com dirigentes de vários clubes, sendo convidado
inclusive para participar das delegações em diversas ocasiões quando serviu
como uma espécie de facilitador nos diversos países visitados.
Não se
esqueçam de que naquela época, línguas estrangeiras eram quase que segredo para
a grande maioria dos futebolistas.
As fotos a seguir
mostram algumas de suas passagens durante a guerra: a primeira num momento de folga antes de partirem para os campos de batalha; as duas seguintes mostram a rua Noordweg em frente ao número 162, em
Middelburg-Holanda inundada devido à destruição de um dos diques de contenção tomadas antes da chegada das forças holandesas e a quarta, obtida
por um dos soldados, retrata o instante da entrada do Exército Holandês na cidade. As duas últimas obtidas do Googe Street Views retratam o mesmo local nos dias atuais.
André é o do centro. Toda a vez que via essa foto deixava
escapar lágrimas ao lamentar a morte de um de seus amigos,
o da esquerda na foto, morto em combate a seu lado.
|
|
Ao
contrário do que muitas pessoas pensam, os diques de contenção das águas do mar
não foram dinamitados pelos alemães e sim pela própria Resistência Holandesa
com o objetivo de dificultar as invasões do inimigo.
Finalmente, com o término da guerra, o registro de um momento de descontração dos amigos sobreviventes: o passeio tranquilo na Jacob Catsstraat, Den Haag, em frente ao número 224 sob o olhar curioso de uma loura local, ainda um pouco assustada e o mesmo local nos dias de hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário