A presente
passagem aconteceu de verdade, embora os mais novos, em especial os nascidos nas
últimas décadas e acostumados com a “paparicação” exagerada aos
jogadores de hoje, provavelmente pensarão tratar-se de uma simples história
da carochinha.
Castilho foi o atleta que mais atuou pelo Fluminense, 697 jogos em dezoito anos defendendo a gloriosa camisa tricolor.
Não existe nenhum outro atleta com maior dedicação ao clube de coração, afinal quem poderia imaginar qualquer dos jogadores atuais extirparem parte de um dedo, quebrado no decorrer de uma partida, apenas para voltar mais depressa às atividades?
A história de Castilho no Fluminense é tão ampla que se torna impossível contá-la num espaço tão pequeno. Felizmente, ela está imortalizada em várias publicações disponíveis para quem quiser saber mais sobre o símbolo nº 1 do Tricolor Verdadeiro.
Castilho foi o atleta que mais atuou pelo Fluminense, 697 jogos em dezoito anos defendendo a gloriosa camisa tricolor.
Não existe nenhum outro atleta com maior dedicação ao clube de coração, afinal quem poderia imaginar qualquer dos jogadores atuais extirparem parte de um dedo, quebrado no decorrer de uma partida, apenas para voltar mais depressa às atividades?
A história de Castilho no Fluminense é tão ampla que se torna impossível contá-la num espaço tão pequeno. Felizmente, ela está imortalizada em várias publicações disponíveis para quem quiser saber mais sobre o símbolo nº 1 do Tricolor Verdadeiro.
A presença de Castilho na casa de meus pais ocorreu na minha infância, quando tinha cerca de oito ou nove anos e permanece
indelével em minha mente até hoje, justamente porque seria impossível para um
moleque daquela idade esquecer a visita do ídolo maior de seu clube de coração.
Conquanto
os detalhes que provocaram a presença de Castilho na casa de meus pais
continuem bem nítidos para mim, não consegui obter dados que comprovassem a sua
causa em todas as pesquisas que fiz.
Acessei o
acervo da Biblioteca Nacional à procura de alguma reportagem ou mesmo de uma
simples nota nos principais jornais da época, “Jornal dos Sports”, “Diário de
Notícias”, “Jornal do Brasil”, “O Campeão”, “A Noite”, “Correio da Manhã”, “O
Globo” e nada encontrei.
Na verdade,
cansei no meio da pesquisa depois de tanto examinar inúmeros exemplares. Pode
ser que mais tarde volte a ter ânimo para retornar.
Antes de
continuar é preciso passar para os mais jovens o panorama do que era o futebol
nas décadas de 50 e 60, muito diferente dos dias atuais
Naquela
época, por exemplo, os pais de família olhavam para os jogadores de futebol com
resistência antes de permitir o namoro com suas filhas.
O próprio
Zagallo, ícone das Seleções Brasileiras, em várias entrevistas concedidas
confessou que para namorar a esposa teve que dizer aos futuros sogros que era
economista, ou que estudava Economia ou algo do tipo, não me lembro bem.
De um modo
geral, os jogadores eram considerados pelos clubes como simples empregados e em
muitos deles proibidos de entrar em suas dependências pela entrada
social.
Lembro-me
bem, moleque ainda, vê-los entrar para os treinamentos pela entrada lateral da
rua Pinheiro Machado. Exceção à regra era Orlando Pingo de Ouro, que já era
sócio do clube antes de se tornar jogador.
Depois que
abandonou o futebol continuou a frequentar as dependências sociais e num dos
vários contatos que mantivemos ele confirmou que realmente era assim que as
coisas aconteciam.
Em suma,
naquela época ser jogador de futebol não era nada charmoso.
Jogadores
milionários, badalados, mimados por dirigentes, empresários, treinadores e
órgãos de imprensa, alguns até demais para meu gosto, é coisa relativamente
nova.
Muitos
deles quando paravam de jogar conseguiam um “biquinho” em seu clube ou em
alguma federação para poder sobreviver, alguns inclusive em funções bem
modestas.
Outros, sem
cabeça boa para poupar enquanto conseguiam jogar ficaram na miséria e tiveram
dificuldades.
Ninguém
tinha carro, pelo menos os que jogavam no Fluminense na época em que eu
frequentava o clube com mais constância.
Iam para os
treinamentos de ônibus ou bonde e da janela de meu quarto na Soares Cabral,
rua que desemboca na Álvaro Chaves, enquanto me arrumava para ir ao colégio os
via quase todos os dias passarem caminhando em direção ao campo para os
treinamentos.
O mais popular
era o Bigode, que ao ser chamado, respondia acenando o jornal, que sempre
trazia dobrado debaixo do braço.
Voltando à
causa que provocou a inimaginável visita do Castilho.
Um dos
jornais de grande circulação na cidade do Rio de Janeiro, resolveu fazer uma
promoção junto aos torcedores para eleger o melhor, ou o mais popular, craque
do futebol carioca.
O
patrocínio era de uma cervejaria, não lembro bem, se Brahma ou Antártica, que
disputavam o mercado acirradamente. Cada tampinha
de cerveja ou refrigerante valia 1 (um) voto.
As pessoas
teriam que juntá-las e trocá-las por cupons e em cada troca, eram registradas
nos cupons a quantidade de votos de acordo com número de tampinhas entregues.
Ao final da
apuração, os primeiros colocados receberiam prêmios, sendo que o do escolhido
como melhor era almejado por todos. Confesso que hoje não tenho a mínima ideia qual era o prêmio
À princípio
não me interessei em participar até que meu tio André me convenceu ao afirmar
que se eu conseguisse bastante tampinhas ele levaria o Castilho lá em casa para
pegá-las.
Tratava-se
de uma quantidade enorme, trezentas, quinhentas, sei lá.
No entanto,
receber a visita do ídolo compensaria qualquer esforço e então parti para o
desafio.
Levei
vantagem na coleta porque na esquina das ruas Soares Cabral e Laranjeiras havia um bar, onde quase
sempre algumas pessoas batiam papo enquanto lanchavam.
Na
realidade, não era bem um bar e sim uma espécie de mercearia que comercializava
gêneros de primeira necessidade e também servia sanduíches e tira gostos
acompanhados de cervejas e refrigerantes num pequeno anexo.
Conhecia
bem o proprietário, um português de nome Miranda, porque passava por lá com
frequência para pegar as compras encomendadas por minha mãe.
Falei sobre
o concurso e pedi que guardasse todas as tampinhas para mim, garantindo que eu
iria buscá-las todos os dias, fizesse chuva ou sol.
Tive o
cuidado de pedir de todos os fabricantes porque achei que se pedisse para
separá-las por marca provavelmente levaria um sonoro não.
Ele achou
graça no pedido e concordou que as guardaria, mas que eu teria que pegá-las sempre antes de fechar o estabelecimento.
E assim,
diariamente eu carregava para casa de trinta a trinta e cinco tampinhas, número
que aumentava nas sextas-feiras e sábados.
E depois de
separar as da marca desejada, conseguia em torno de noventa ou cem por semana,
além das que achava na rua, ou no pátio do colégio.
Pedi também
a ajuda de Geninho, um amigo tricolor, que morava perto para me ajudar com a
promessa de convidá-lo no dia da visita tão esperada.
Parei de
contá-las ao conseguir juntar pouco mais de trezentas e cinquenta, que distribuí em quatro
sacos grandes conseguidos com o Sr. Miranda.
Faltava
ainda um bom tempo para o encerramento do concurso e a apuração dos mais
votados, mesmo assim informei ao André que já tinha quantidade suficiente para
justificar a visita e fiquei no aguardo da chegada do ídolo.
Até que
chegou o dia. Geninho, o amigo que me ajudou na coleta e eu passamos quase a
tarde toda na varanda, olhando de um lado para o outro para ver se meu tio nos
tinha pregado alguma peça ou se estava falando a verdade.
Ao final da
tarde desistimos e entramos para encarar um encorpado lanche que minha mãe
tinha preparado para nós.
Pouco
depois a campainha tocou e lá estavam André, Castilho e um jovem, que foi
apresentado como um amigo que ajudaria a carregar as tampinhas.
Ficamos,
Geninho e eu, meio que abobalhados e quase não falamos.
Aos poucos
a conversa fluiu, mas quem comandava tudo era o André, único que falava com
desenvoltura e contava várias passagens ocorridas quando das excursões do time
do Fluminense.
Castilho
concordava, mas também quase não falava. A maioria das vezes limitava-se a
sorrir e balançar a cabeça num sinal de concordância.
Incentivado
pelo André passou a contar algumas histórias acontecidas durante os jogos e também nas
famigeradas concentrações.
Foi uma visita não muito longa porque dia seguinte haveria treinamento pela manhã. Durou cerca de quarenta a cinquenta minutos, no máximo.
A emoção
era tão grande que nem nos lembramos de colher um simples autógrafo para
registrar o momento importante. E que falta fazia um celular.
Despedidas,
agradecimentos e lá foram os dois com certa dificuldade para carregar os sacos.
André ficou
para o jantar e continuou contando suas histórias, inéditas para meu amigo.
Durante o
jantar enquanto contava a aventura para meu pai, minha mãe fez apenas uma
observação: “como é tímido o Castilho, quase não fala”.
A família
de Geninho mudou-se do bairro, cursamos universidades diferentes e aos poucos
fomos perdendo o contato até que não mais nos vimos, mas certamente até hoje
ele deve lembrar da aventura.
O inusitado
da história é que não me recordo se o Castilho ganhou o concurso, acho que sim,
mas não tenho certeza absoluta.
Os céticos
ainda podem estar duvidando de como o meu tio André, um cidadão holandês que
chegou ao Brasil com apenas três anos de idade, tinha tanto trânsito com a
turma graúda do futebol.
Na
realidade foi por pura sorte. Um fato que poderia ter sido trágico e acabou
servindo de trampolim para que ele alcançasse condições inimagináveis
em sua vida.
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