domingo, 22 de abril de 2012

Crise na Traffic pode respingar no Fluminense.



Embora sem muito alarde na mídia desportiva, o fato é que a empresa de Jota Hawilla vai de mal a pior.

A notícia por si só poderia parecer alentadora para os destinos do Fluminense que, em caso de insolvência da empresa, poderia livrar-se definitivamente do vínculo com essa incômoda “parceira”, vínculo esse mercê de um contrato espúrio assinado pelo ex-presidente Horcades, após sua fragorosa derrota nas últimas eleições do clube.  Veja detalhes em postagem anterior sobre o assunto.

A principal causa para a crise foi o prejuízo causado pela perda da prioridade na comercialização da Copa América, fruto de atritos de Hawilla com a Conmebol, que chegou inclusive a considerá-lo como “persona non grata”.

Contribuíram também para o agravamento da situação os investimentos frustrados com vários atletas que não decolaram.

Seguindo quase sempre o mesmo script, as parcerias da Traffic  tendem mais cedo ou mais tarde ao rompimento quando os clubes percebem que quase nenhuma vantagem pode ser auferida com os acordos firmados. Via de regra são rompimentos conturbados, como ocorreu com Cruzeiro, Palmeiras e mais recentemente com o Flamengo por conta dos sistemáticos atrasos nos pagamentos de Ronaldinho Gaúcho.

No Fluminense a presença da Traffic tem sido deletéria. Em troca de uns míseros trocados para a compra dos direitos federativos do Conca, vários craques revelados em Xerém foram abocanhados por ela e logo negociados a preços vis, praticamente sem nenhum retorno para o clube.

A ganância da Traffic é de tal monta que os atletas são descartados por qualquer oferta, por mais irrisória que seja, como foram os casos de Maicon e Alan.

Se não tivesse ido com tanta sede ao pote, provavelmente os lucros auferidos com a venda das jovens revelações poderiam ter sido bem maiores. O próprio Conca acabou sendo negociado por um preço inferior a sua multa rescisória.

Vários outros atletas da base tricolor como Digão, Fernando Bob e Matheus Carvalho já pertencem, pelo menos em parte, à Traffic e certamente serão repassados na primeira oportunidade.

Os acordos são tão leoninos que o Fluminense ao perder o vínculo com o Dalton foi obrigado a indenizar a “parceira” com a cessão de direitos de mais atletas da base.

Acredito que a totalidade da Torcida Tricolor ficaria eternamente grata ao Presidente Peter Siemsen se ele conseguisse livrar-se de uma vez por todas das influências nefastas desses empresários gananciosos, única maneira do Fluminense poder administrar com retidão os futuros craques formados no Vale das Laranjeiras.  

Abra os olhos, caro Presidente e expulse a Traffic das hostes tricolores.

A seguir a transcrição da série de notícias publicadas no site do Terra sobre o assunto.

Traffic enfrenta momento conturbado e naufrágio em negócios
17 de abril de 2012  07h43  atualizado às 07h56
DASSLER MARQUES
Direto de São Paulo
No fim de 2011, um ofício curioso circulava na luxuosa sede da Traffic na Rua Bento de Abreu, em São Paulo. Seria também enviado a Porto Feliz, cidade vizinha à capital onde atua o Desportivo Brasil. O documento tratava de cortes no orçamento do clube criado e mantido pela empresa de marketing esportivo. Entre as disposições mais diversas possíveis, curiosidades como a substituição de peito de peru por presunto no café da manhã dos jogadores e até a demissão das arrumadeiras de cama. Os atletas precisariam assumir esta missão matutina.
 O ajuste de orçamento no Desportivo Brasil é apenas um exemplo da crise sem precedentes que atinge a Traffic nos últimos meses. Cortes drásticos foram realizados a partir de Júlio Mariz, presidente demitido, e uma série de diretores de alto escalão também foram dispensados. O fim da parceria com Ronaldinho e Flamengo foi outro sintoma da tempestade.
 Segundo o Terra apurou, a Traffic investiu cerca de US$ 200 milhões (R$ 342 milhões na cotação atual) em projetos como a contratação de Ronaldinho no Flamengo, a compra de direitos de jogadores, profissionais e para as categorias de base, e parcerias com o Estoril (Portugal) e Miami FC (Estados Unidos). A principal causa para a crise, ainda assim, é o prejuízo pela perda da prioridade na comercialização dos direitos de transmissão da Copa América, justificada por atritos junto à Conmebol. Jota Hawilla, dono da Traffic e amigo antigo de Ricardo Teixeira, já não tem mais relação sólida com o ex-presidente da CBF e perde espaço para o concorrente Kléber Leite, ex-presidente do Flamengo. Mas não é só. O Terra mostra todos os detalhes desse processo descendente. 
Os prejuízos milionários: Teixeira passa bastão de Hawilla para Kléber Leite
Ex-funcionários da Traffic apontam a perda da Copa América como a principal razão para a crise que gera cortes em vários departamentos. Desde 1987, a empresa era responsável pela comercialização dos direitos do torneio. Só em 2011, 54 países compraram a transmissão. A empresa viu o negócio crescer em 40% em relação à edição 2007, mas perdeu espaço. Em novembro do ano passado, a Conmebol emitiu comunicado que apontava Jota Hawilla como persona non grata e repassou a comercialização da Copa América à empresa uruguaia Full Play. Presidentes das dez filiadas da Conmebol, inclusive Ricardo Teixeira, deram aval à manobra. O negócio pode parar nas mãos também da Klefer, grupo de marketing esportivo que pertence a Kléber Leite, ex-presidente do Flamengo e aliado de Teixeira. "Já temos uma parceria com eles, que é para o Superclássico das Américas (amistosos entre Brasil e Argentina). Há a possibilidade de isso se estender também para a Copa América, sim", afirmou Kléber ao Terra. 
Os prejuízos milionários: Ronaldinho e Maracanã
Um projeto cujo investimento não será recuperado é Ronaldinho, contratado pelo Flamengo com aval da Traffic. A empresa se responsabilizava por pagar 75% dos salários do jogador (R$ 750 mil mensais) em 2011, mas demorou a conseguir parceiros para explorar a imagem do camisa 10. Até um título de capitalização foi criado para tentar aliviar a falta de recursos.
Traffic e Flamengo romperam no início de fevereiro depois dos direitos de imagem de Ronaldinho atrasarem por seis meses consecutivos. A empresa ainda foi deixada de lado pela Nine, concorrente que pertence a Ronaldo e fechou a cota máster do uniforme rubro-negro com a Procter & Gamble em agosto de 2011. O patrocínio fechado entre Fla e Cosan para a manga da camisa, no começo desse ano, selou o fim da parceria deficitária com o clube carioca.
Bem relacionada no Fluminense, a Traffic imaginava que a parceria com o Flamengo fosse o que caminho perfeito para se tornar a administradora do Maracanã, um lucrativo negócio. As entradas de Eike Batista e da IMX na parada, entretanto, deixaram a empresa de Jota Hawilla para trás. O rompimento do Fla com a Traffic e o próprio Fluminense por conta de Thiago Neves frustraram os planos de uma vez. 
Os prejuízos milionários: jogadores
Os maiores investimentos da Traffic foram na contratação de jogadores para praticamente quase todos os grandes e médios clubes do Brasil. Fluminense e Palmeiras foram os principais parceiros, sobretudo o clube paulista. Em 2009, a empresa chegou a ter mais de dois terços do elenco palmeirense e rompeu na reta final da gestão de Luiz Gonzaga Belluzzo.
Não há dados objetivos sobre os prejuízos, mas uma série de jogadores em quem a Traffic investiu não surtiu efeito. Só no Palmeiras, nomes como Marquinhos, Willians, Diego Souza, Jumar, Jefferson, Fabinho Capixaba, Sandro Silva, Lenny, Jefferson, Evandro e Rivaldo não vingaram. As negociações de Keirrison e Henrique, contratados junto ao Coritiba e repassados para o Barcelona, foram os negócios mais lucrativos do projeto, mas se tornaram polêmica na Espanha. Ambos nunca atuaram pelo clube catalão e as portas se fecharam para mais operações desse tipo. 
Traffic reduz investimentos e faz cortes em clube-formador
DASSLER MARQUES
Um dos principais alvos da redução de investimentos foi o Desportivo Brasil. Clube formador criado pela Traffic em Porto Feliz, o Desportivo se especializou por contratar jogadores jovens de outros clubes para tentar repasses no futuro e obter lucro, o que ainda não funcionou. A principal demissão foi de Pita, que coordenava o projeto desde seu início.
Luvas de seis dígitos foram pagas às famílias de Lucas Evangelista (ex-São Paulo) e Aguilar (ex-Cruzeiro), promessas de 16 anos tiradas dos clubes de origem por quantias fora da realidade de mercado. Zezé Perrella, ex-presidente cruzeirense, rompeu com a Traffic por conta do assédio a Aguilar, que partiu sem deixar nada aos cofres mineiros.
Segundo o Terra apurou, a empresa trabalha agora em busca de parcerias junto a outras equipes para negociar seus jogadores e aliviar a folha salarial do Desportivo Brasil, já que nenhuma boa negociação se concretizou. "Eles reduziram bastante o número de atletas, alguns foram dispensados. A saída do Pita foi um indício do corte de gastos", afirma ao Terra um ex-treinador do clube em condição de anonimato.
Mesmo após seis edições, o time profissional do Desportivo segue na quarta divisão do Campeonato Paulista, o que atrapalha a afirmação do projeto. Nem mesmo grandes campanhas como o título do Campeonato Paulista Sub-15 ou a terceira posição na Copa São Paulo de 2011 impediram os cortes.
Uma parceria que leva os melhores nomes da base para o Manchester United e promete render frutos é esperança para recuperar parte do investimento. O Twente, clube holandês, também é utilizado como ponte para facilitar eventuais parcerias. O meia Rafael Leão já atua pelo time Sub-18 dos ingleses e é uma das maiores esperanças da Traffic. Diretor demitido, Pita critica e vê crise
Coordenador do projeto Desportivo Brasil desde o início, o ex-jogador Pita foi um dos que perderam o emprego com o corte de despesas da empresa. "O trabalho era excelente, teve sucesso. O único da Traffic com sucesso. Acho que pelo que vem acontecendo, a Traffic vive uma crise, sim. É auditoria, mudanças, tudo", define.
Pita critica, principalmente, porque o Desportivo teve bons resultados e até jogadores convocados nas seleções de base. "A maioria das pessoas saiu, eram as pessoas que começaram o projeto. Nós que iniciamos e dava certo, formamos grandes times. Foi um problema da Traffic". 

Crise da Traffic tem demissões em massa; empresa silencia
DASSLER MARQUES
Com prejuízos em série e sem a Copa América, a Traffic então precisou se redimensionar. Muitos nomes foram demitidos após o ex-presidente Júlio Mariz e outros saíram por conta própria. A lista tem Felipe Faro (diretor de negócios com 12 anos de casa), Geraldo Goes (diretor jurídico com 20 anos de casa), Pita (coordenador do Desportivo Brasil), Darío Pereyra (observação de atletas), João Caetano (gerente de patrimônio) e Mauro Holzmann (marketing), entre outros.
O chamado facão, que caracteriza demissões em série, passou por vários outros departamentos da empresa. No fim de outubro em uma só leva foram 25 funcionários demitidos nas mais diversas funções. Jornalistas, cozinheiras e até faxineiras entraram no corte. Os departamentos de redação e captação de jogadores, por exemplo, também foram desativados. Ao Terra, Felipe Faro preferiu não comentar a saída da empresa. "Não me sinto confortável, já estou em outro emprego. Saí sem problemas, tudo tranquilo e por uma decisão minha. Não quero falar sobre outras questões", disse o agora superintendente de esportes do Santos. 
Traffic silencia
Por duas vezes, o Terra procurou a Traffic por meio da secretária particular de Jota Hawilla e informou o teor da reportagem. A empresa preferiu não se pronunciar. 

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